MANUAL PARA PRESERVAR DEMOCRATAS –
Aberta a temporada eleitoral (um contrassenso, em tempos de crise sanitária), parece-me oportuno um exercício de cidadania política. Refiro-me a algo hoje importante, que extrapola algumas visões simplistas na escolha de candidatos a cargos eletivos. Atrevo-me a propor um “Manual”, que ajude partidos e eleitores a escolherem candidatos realmente democratas.
O primeiro capítulo desse manual está no texto que antecedeu a este. Vale à pena ter o “Prontuário” em mãos, como princípio pétreo. Claro que o acesso a esse instrumento é válido apenas para identificar quem comunga da ideia autocrata, que infelizmente se transformou numa onda perigosa no mundo.
O segundo capítulo é ter atenção redobrada com aqueles renitentes, que insistem nas teses anti-sistema, que negam a “Política” e seus agentes (os Políticos). São do tipo: se for fora do meu padrão anti-político, ninguém presta, todos são inconfiáveis . Nem 8, nem 80. Apesar da classe ser uma amostra representativa de uma sociedade de iguais valores, o ofício da Política (assim, com inicial maiúscula) não é para qualquer indivíduo.
Essas razões já são para alguns suficientes, seja na intenção de negarem as instituições ou apostarem em apolíticos. Um modelo que reforça o perigo de “outsiders”, que embalados por demandas oportunistas, ficam no limbo da tentação pelo populismo. As experiências recentes pelo mundo têm revelado despreparo público, intolerância com os rivais e sintomas clássicos de desconhecimento do poder.
Claro que demagogos, populistas e extremistas sempre fizeram parte da História. Contudo, dois aspectos são fundamentais para redução dos espaços políticos desses seres: a) as estruturas partidárias fortes com lideranças políticas equilibradas, que “tirem de tempo” quem conspira contra a democracia; e, b) as instituições e sociedades politicamente sólidas, afinadas com os valores democráticos.
Levemente inspirado por Mário Ferreira, essa “simbólica” do exercício do ‘kratos”, por quem está longe de reconhecer sua dimensão, é um grande risco. E isso fragiliza a democracia .
Concluo esse tema no próximo texto.
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Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador. Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco