O novo filme do brasileiro Karim Aïnouz (“A vida invisível”), “Marinheiro das montanhas”, foi aplaudido por 15 minutos após sua exibição no Festival de Cannes. A produção fez parte como convidada da mostra Sessão Especial.
“Uma emoção gigante ter feito o filme. Ter passado aqui hoje. Ter tido a recepção que teve”, afirma o diretor.
“Marinheiro das Montanhas” é um diário de viagem filmado na primeira ida de Aïnouz à Argélia, país em que seu pai nasceu.
Com registros da viagem, filmagens caseiras, fotografias de família e arquivos históricos, o cineasta discute paralelos entre a história de amor de seus pais, a guerra pela independência argelina, memórias de infância e os contrastes entre a região de Cabília, no país africano, e Fortaleza, cidade natal do cineasta e de sua mãe, Iracema.
“‘Marinheiro das montanhas’ é um filme íntimo, talvez seja o meu primeiro filme. O filme que sempre sonhei em fazer e que só consegui realizar muitos anos depois”, disse ele ao público antes da exibição.
“Essa história de amor entre os meus pais habitou meu imaginário desde que eu me entendo por gente e de alguma forma transformá-la em filme foi o que me levou para o cinema.”
O filme é uma produção da VideoFilmes, dos irmãos Walter Salles e João Moreira Salles, com coprodução da Globo Filmes, GloboNews, associação com MPM Film, Big Sister, Watchmen e Cinema Inflamável e distribuição da Gullane.
Durante sua passagem pelo festival, Aïnouz também anunciou que seu próximo projeto, “Firebrand”, será uma cinebiografia de Catarina Parr, a sexta e última esposa de Henrique VIII, estrelada por Michelle Williams (“Venom”).
O cineasta tem uma história muito ligada ao evento francês. Além de ter ganhado o prêmio de melhor filme da mostra Um Certo Olhar em 2019 com “A vida invisível”, também exibiu lá seu primeiro longa, “Matame Satã” (2002), e “O Abismo Prateado” (2011).
A sessão também foi marcada por manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro e sua administração durante a pandemia de Covid-19.
“Não posso deixar de lembrar que, enquanto estou aqui celebrando com vocês, milhares de brasileiros estão morrendo por absoluto descaso deste governo fascista na condução da pandemia. A democracia brasileira respira por aparelhos”, disse o diretor após a exibição do filme.
“Além das mais de 500 mil mortes com a Covid, muitas outras vidas foram perdidas por responsabilidade direta desta administração genocida. Como acontece em governos autoritários, os artistas, a ciência e as universidades públicas foram os primeiros a ser atingidos.”
Depois do discurso, uma faixa exibida protestava contra as mortes: “Brasil: 530 mil mortos. Fora, gângster genocida”.
Fonte: G1RN