O Rio Grande do Norte está em festa, pois no próximo domingo 15 de outubro, a Santa Sé incluirá 30 mártires do Brasil, beatificados em 5 de março de 2000 pelo Papa João Paulo II, no rol de adoração da Igreja Católica. Para que entendamos as razões das canonizações das três dezenas de fiéis, segue-se um resumo dos fatos.
Morticínio de Cunhaú – Em 1645 o Rio Grande do Norte era dominado pelos holandeses. Jacob Rabbi, um alemão a serviço da Companhia das Índias Ocidentais Holandesas, chegou a Cunhaú no dia 15 de julho daquele ano onde já era conhecido dos nativos do povoado, pois ali passara outras vezes escoltado por índios Tapuias.
A visita do alemão naquele dia diferiu das anteriores porque, além dos indígenas, acompanhavam-no alguns potiguares e soldados holandeses. Dia seguinte, domingo 16 de julho, os fiéis da aldeia se reuniram para celebrar a Eucaristia indo à missa, como de costume, na capela Nossa Senhora das Candeias, no Engenho Cunhaú.
Jacob Rabbi afixara um edital na porta da igreja informando que, após a missa, repassaria ordens do governo. O padre André de Soveral iniciou a celebração e, no momento da consagração do Corpo e do Sangue de Cristo, as portas da capela foram fechadas e se iniciou o massacre.
Ao perceberem que seriam mortos pelas tropas, os fiéis não reagiram. Pelo contrário, confessaram suas culpas ao sacerdote, enquanto o padre André exortava-os a bem morrer rezando apressadamente o ofício da agonia.
Cunhaú integra atualmente o município de Canguaretama, onde os seus mártires são lembrados no dia 16 de julho.
Morticínio de Uruaçu – Três meses passados do massacre de Cunhaú, aconteceu outro com maior requinte de crueldade, em Uruaçu, no dia 3 de outubro, provavelmente sob as ordens do mesmo Jacob Rabbi.
Nesse massacre, após a Elevação, as portas da igreja também foram trancadas e o ritual feroz e desumano teve início com o corte das línguas dos fieis para que não proferissem orações católicas. Em seguida, deceparam braços e pernas das vítimas. Crianças foram partidas ao meio e a maioria dos corpos degolada.
O celebrante, padre Ambrósio Francisco Ferro, foi bastante torturado. Já o camponês Mateus Moreira, enquanto lhe arrancavam o coração pelas costas, exclamava: “Louvado seja o Santíssimo Sacramento!”. De acordo com relatos históricos, os invasores holandeses ofereceram aos fiéis católicos a opção de conversão ao calvinismo, mas eles escolheram o martírio.
Uruaçu está encravado no município de São Gonçalo do Amarante e a data da chacina foi declarada feriado estadual.
Existem apenas seis santos brasileiros, mesmo assim pouco difundidos na comunidade cristã do país. Dentre eles, estrangeiros enviados em missão apostólica ao nosso território e que, ao serem canonizados pela Igreja Católica Apostólica Romana, foram também considerados santos do Brasil. São eles:
São Roque González de Santa Cruz (nascido no Paraguai), Santo Afonso Rodrigues (nascido em Zamora, na Espanha) e São João de Castilho (também nascido na Espanha), considerados os três mártires do Rio Grande do Sul; Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus (nascida na Itália); Santo Antônio de Sant’Ana Galvão (nascido no Brasil); e São José de Anchieta (nascido na Espanha).
Agora, com os padres André de Soveral e Ambrósio Francisco Ferro, junto a Mateus Moreira e outros 27 leigos, serão 36 os santos brasileiros para veneração.
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil e escritor – [email protected]