MAS, O QUE É EDUCAÇÃO CORPORATIVA? –
Era domingo. Dois dias já haviam se passado do prazo estipulado para a entrega do trabalho da disciplina Educação Corporativa, componente curricular da pós-graduação em gestão do capital humano, ministrada, com excelência, pelo Professor-doutor Vinícius Claudino de Sá. Penitência, essa, de quem tem que conciliar trabalho e estudo. Pois bem, precisei faltar à duas aulas da referida disciplina para realizar um trabalho da Secretaria de Estado da Educação e da Cultura, órgão em que labuto desde a aprovação em concurso público, que consistia na observação de algumas salas de aula da Rede Estadual de Ensino, para captar a dinâmica da sala em seus diferentes instantes e, com isso, diante do resultado da pesquisa, poder criar mecanismos que intervenham, significativamente, nas mudanças de se conseguir um ambiente mais dinâmico e eficaz, proporcionando ao aluno um verdadeiro significado em sua aprendizagem.
Como bem disse Mariana de Oliveira Fernandes Torres, em seu artigo Educação Corporativa como Diferencial Competitivo, sobre a importância dos aspectos intangíveis “…. Seja uma pequena, média ou grande companhia, permanecerão aquelas que cultivarem a cultura de que a empresa é simplesmente física, quem aprende, inova, agrega, são as pessoas”. E sobre isso, eu pude sentir, nitidamente, a vida emergir das mais diferentes formas pelas salas que peregrinei. De toda forma, eu teria que me concentrar no trabalho que me levou até lá, porém, confesso, era impossível não opinar, silenciosamente, cá com meus botões, sobre as diversas formas didáticas, estratégicas por assim dizer, que poderiam ser usadas para oportunizar a aquisição de novas competências e significados do conhecimento entornado em sala de aula.
Eu estava lá o tempo todo, durante as observações nas salas de aula, fazendo relação com a disciplina do professor Vinícius. Lembrando que teria de me debruçar sobre artigos, teorias e experiências, para descrever meu entendimento acerca do tema Educação Corporativa. Eu, como boa pedagoga, já havia ficado com um pé atrás, no início de sua disciplina. Tudo isso porque lembrei da época de faculdade, quando sentada nos bancos acadêmicos, encantava-me com os ensinamentos do mestre Paulo Freire. Lembrei do livro de bolso que comprei, logo no início do curso de Pedagogia, no centro de convivência da UERN, na pequena livraria do campus universitário, que ficava logo após a Copy Arte (antigo espaço destinado à xerox) entre os dois caixas eletrônicos do Banco do Brasil (eles estavam mais em manutenção que funcionando durante os oito períodos que estive no campus) e a lanchonete de Bira (comentava-se, na época, que era a lanchonete mais democrática da Universidade, lá iam do rico ao pobre, do sabido ao menos culto, todas as tribos baixavam por lá, o lanche não era lá essas coisas toda, mas a recepção do proprietário nos convidava a voltar sempre. Para mim era parada obrigatória logo na chegada, às sete da manhã, para o tradicional e cotidiano café com leite – o meu “acorda menina!” Como diria Ana Maria Braga).
O livro era o Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire (eu, até hoje, não me perdoei de tê-lo emprestado, pois nem gosto de pedir livro emprestado e, muito menos, emprestar meus livros, pois são como filhos de sangue. Prefiro presentear a emprestar, ser presenteada a tomar por empréstimo). Alguns trechos do livro que trata sobre a “educação bancária” ecoavam em minha mente, então eu me perguntava: – “teria a educação corporativa, como fim, alienar os trabalhadores, com memorizações mecânicas, robotizando-os para atender exclusivamente a necessidade do opressor? Caberia a educação corporativa transformar seus empregados em vasilhas armazenadoras daquilo que produzirá lucro somente à empresa? ”
Pegando carona nas canções “nada do que foi será/ de novo do jeito que já foi um dia…” Tenho certeza que “nada será como antes”, nunca mais! Depois dessa pós-graduação, depois de tantas vendas tiradas e muitos conceitos desmistificados, eu não consigo mais entrar e sair dos lugares em que trabalho, no setor que sou lotada, sem identificar inúmeras necessidades de melhorias, muitas vezes, sendo preciso apenas pequenas mudanças. A maioria das carências estão diretamente ligadas à informação, ao conhecimento – ou a falta dele. Percebo que a sistematização e operacionalização das informações, enquanto conhecimento necessário para o melhor desenvolvimento do trabalho, é o grande gargalo do ambiente.
Reconhecer, descobrir e incentivar habilidades, competências, valores e atitudes, bem como, nortear o profissional conforme a visão da instituição, é a base da educação corporativa, que prima a valorização das pessoas enquanto ser pensante e atuante, através de suas transformações individuais e capacidade de conviver em grupo, agregando valor a empresa. Bira tinha muitas habilidades e competências, sem dúvida. Porém, atrevo-me a supor que gerir o conhecimento que estava a sua volta, gritando, a cada mesa que se ocupava, com a comunidade universitária, a ser percebida como consumidores exigentes, que não queriam apenas a melhor maionese da região, mas que também era preciso que a coxinha fosse saborosa, mais recheada e sua massa menos dura, sem a aparência de anteontem, não foi o seu forte. Ah, ia esquecendo de dizer, a televisão da lanchonete ficava num ponto alto e estratégico (a TV era um dos atrativos principais naqueles tempos livres de internet móvel, impossibilitando os presentes de acessar as redes sociais, e, com isso, fidelizar a clientela, pois proporcionava boa visão até mesmo para quem sentava mais distante).
E pensar que tudo isso porque tive que me ausentar, por duas vezes da sala de aula! Mas pós é pós!
http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/educor.html
http://www.rhportal.com.br/artigos-rh/educao-corporativa-como-diferencial-competitivo/
Flávia Arruda – Pedagoga e escritora, autora do livro As esquinas da minha existência