MATERIALIZA-SE O AMOR? – Flávia Arruda

MATERIALIZA-SE O AMOR? –

Há quem diga que sofrer por amor é consequência de algum tipo de dependência emocional. Já escrevi sobre o fato de projetar no outro uma necessidade unilateralmente nossa, sobre a grande roubada que é dar ao outro a responsabilidade da nossa felicidade, como forma de nos sabotar emocionalmente.

Quantas vezes, após um rompimento amoroso, já nos prometemos nunca mais amar? Eu já perdi as contas de quantas vezes me proibi amar novamente, sem falar que nem sei mais a quantidade de vezes que voltei atrás e me permiti amar de novo.

Penso que depois de algumas experiências, sejam elas boas ou ruins, não sendo umas ou outras menos necessárias para o nosso crescimento pessoal e emocional, dado que, o amadurecimento emocional, consequência das experiências vividas, vai nos poupando ao longo de nossa jornada de certas dores, ou mesmo evitando-as. O amadurecimento vai nos dando critérios entre o que não queremos mais em nossas vidas e o que ainda precisamos/desejamos viver.

Em algum momento deixaremos de sofrer por quem amamos? Mesmo que o amor adormeça? Nunca! É fato. Digo isto no sentido mais amplo do amor. Exemplifico relatando um acontecimento de ontem, domingo 05.12.2022: por um descuido do meu filho mais velho, sua cachorrinha, Maria, saiu para a rua sem que percebêssemos; quando nos demos conta da sua falta, saímos em desespero pelas ruas em torno de nossa residência em sua procura.

Foram minutos de sofrimento, movido pelo sentimento que nos preenchia, o amor. Sofremos juntos, eu e meu filho, até encontrá-la, porém, o sofrimento se estendeu por mais algum tempo; isto, por imaginar tê-la perdido, por projetar nossa convivência futura sem sua presença.

Aos poucos fomos deixando os pensamentos ruins se esvaírem, deixando de lado o sofrimento causado pelo medo de perdê-la, para voltar ao melhor de uma relação amorosa: vibrar o reencontro com todo amor e fervor que havia em nossos corações. O amor está materializado, nesse caso, em forma de uma cachorrinha linda e amorosa, sapeca e para lá de buliçosa: Maria.

De uma coisa temos certeza, no amor não existem certezas, pelo contrário, o incerto é o que mais temos de certo, então, não há garantias de não sofrermos; e no final, sabe o que eu acho? Que o prazer de amar novamente, de se permitir ser amada, sempre vai superar os sofrimentos que dele emana. Eu sei por experiência própria, apesar de ser contraditório, que amar também traz sofrimento. Sim, já sofri e sofro por amor, e, confesso, sinto falta dos novos amores, mesmo sofrendo pelos velhos e atuais amores.

Talvez por isso damos tanto valor ao amor, por não aguentarmos tanto tempo o sofrimento, e assim vamos vivendo nessa gangorra de sentimentos, afinal amar pode nos levar a alguns becos sem saída. Nesses casos, o jeito é engatar a ré e tentar virar a próxima esquina, pois sempre valerá a pena amar, por mais que doa. Eu quero morrer de amar por todo tempo que eu viver, quero amar materializando meus sentimentos, numa projeção que seja boa, saudável e ambilateral.

 

 

 

 

 

 

Flávia Arruda – Pedagoga e escritora, autora do livro As esquinas da minha existência, flaviarruda71@gmail.com

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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