Vi na TV professor responsável pelas matriculas em escola pública alertar os estudantes: prestem muita atenção, são muitos documentos para fazer a matricula e a falta de um deles pode prejudicar você. Não duvido que, no meio desses importantes documentos, exista algum do tipo que descrevo a seguir.
Em 1942, depois de aprovado no Exame de Admissão ao Ginásio no Atheneu, fui fazer minha matricula. Entre os documentos exigidos, havia um Atestado de Sanidade Física e Mental. Era emitido pela Secretaria de Saúde do Estado, na Junqueira Aires, em frente ao Atheneu.
Eu morava no final da Rua Açu, perto da Hermes da Fonseca. Ainda não era calçada. Saí de madrugada, por volta das cinco da manhã, caminhando até a Secretaria, onde cheguei em redor das cinco e meia, já encontrando uma fila razoável. Quando fui atendido, sei lá, 30, 45 minutos depois, uma enfermeira perguntou o meu nome, preencheu o atestado e me entregou. Já assinado pelo medico, que nem sequer falou comigo. Portanto, um atestado fajuto. Todos tinham que o apresentar a cada nova matricula, ou seja, todos os anos. Não me surpreendeu. Não tinha ainda idade para me indignar.
Minha grande surpresa ocorreu trinta anos depois, quando na Secretaria de Educação, Governo Cortez Pereira. Revisando procedimentos, pois então já tinha ojeriza à burocracia, encontro aquela exigência do mesmo atestado, e obviamente entregue da mesma forma. Procurei e não encontrei legislação que o exigisse, para revogá-la. Perguntei à Genibaldo Barros, Secretário de Saúde, se havia alguma legislação por lá. Investigou e nada encontrou. Acabei com o tal atestado e combinei com ele que, se necessário, faríamos o exame do aluno na escola. E nunca isso foi preciso.
A burocracia no Brasil é um câncer que se expande. Qualquer área de governo está repleta de procedimentos idiotas, que só atanazam a nossa vida. Nada resolvem ou contribuem para o nosso bem-estar. Governos passados criaram até um Ministério da Desburocratização, que foi engolido pela burocracia, pois desapareceu. Em compensação, temos hoje 39 que não sabemos para que ou por que. Fico imaginando a economia e o sossego do cidadão, se conseguíssemos reduzir toda essa burocracia maluca a um mínimo.
Querem exemplos da burrice atual? Essa modificação das tomadas, sem nenhum justificativa racional. A exigência de terra é uma idiotice, pois já existiam no mercado tomadas que permitiam essa ligação. Era só dar-lhes preferência. Outra burrice? Extintor de incêndio em veículos. Vocês já viram alguém apagar fogo em carros com esses extintores? Inventam novas placas para uso do MERCOSUL, a ser adotada proximamente. E tudo isso somos nós que pagamos. Mas não sabemos quem ganha o dinheiro! Em Quebec, Canadá, os carros só têm placa atrás. Já pensou na economia?
Mas, convenhamos, não estamos sós. Li outro dia que anos atrás um novo Prefeito de Londres resolveu revisar procedimentos. Encontrou um guarda destacado 24 horas por dia numa praça pequena e pouco importante. Por que? Um cidadão sentou-se num banco recém pintado, acionou a Prefeitura para ser indenizado, ganhou a causa. O Prefeito de então destacou um guarda para avisar as pessoas da “tinta fresca”. Esqueceram, e o “serviço” ficou ativo por anos. Como se vê, não somos exceção.
Dalton Mello de Andrade – Ex- Secretário Estadual de Educação e ex- Pro-Reitor da UFRN