Dalton Mello de Andrade
Infeliz no jogo, feliz nos amores. Velho ditado. E posso me considerar testemunho dele. Não me recordo de ter ganho no jogo. Sempre que comento isso, me lembro do circunstante que toda semana ia a Igreja, pedir à Santo Antonio que o ajudasse a ganhar a loto. Nunca ganhava, mas não desistia. Um dia, Santo Antonio, já de saco cheio, respondeu: Pô, como posso lhe ajudar! Pelo menos jogue! É quase o meu caso, mas de vez em quando jogo, só para confirmar o ditado. Pois sou muito feliz nos amores, ou melhor, no amor.
Casado há 63 anos, se somar namoro e noivado chegamos perto dos 70. Sem rusgas, desencontros ou problemas maiores até hoje. Somos tolerantes um com o outro, e isso nos deu uma convivência rara. Constituímos uma família equilibrada, o que culminou o nosso casamento. Nada a reclamar de minha parte e, acho, acho não, tenho certeza, da parte dela também.
Esta semana, as notícias eram sobre o valor da megasena acumulada. Quando estava em 170 milhões, joguei. Como sempre, depois vi a notícia do resultado e os meus números nem apareceram. Sem surpresa. Mas, disse comigo mesmo, vou jogar de novo; uma bolada, que me será muito útil. Desta vez, fiz igual ao cara que chateava Santo Antonio: esqueci de jogar. E só me lembrei no dia seguinte, quando os novos resultados apareceram nos periódicos.
Não sou contra o jogo. Achei de uma burrice suprema a proibição do jogo no Brasil. Tudo causada pela mulher de Dutra, muito religiosa, que achava o jogo um pecado. Pelo menos, é o que contam. Ela fez o marido proibir o jogo no Brasil, prejudicando milhares de pessoas, fechando todos os cassinos, e tentando acabar até com o jogo do bicho. Ledo engano. Até minha avó jogava no bicho. Enquanto isso, ao nosso redor, países vizinhos, o jogo continua, nos tirando não sei quantos turistas.
Fui à Las Vegas. A primeira vez, em 1965. Deslumbrante então, deslumbrante hoje. Num dos cassinos, vi uns cinzeiros bacanas, espalhados por todos os lados. Perguntei a um dos seguranças: onde posso comprar um? Resposta: pode roubar um, estão aí para serem roubados. Roubei. Joguei nos caça-níqueis. Desnecessário dizer que não ganhei nada. Fui a Hong Kong e de lá à Macau. Ainda portuguesa. Visitei o cassino. Mixuruca. Hoje, leio, a Macau chinesa tem grandes cassinos e, segundo se sabe, já ultrapassou Las Vegas em movimento. Gosto de conhecer cassinos, mesmo sem jogar. Fui ao de Montevidéu, Ciudad de Leste, Buenos Aires, Mendoza.
Lembro-me do Cassino de Bianchi, aqui em Natal, no tempo da II Guerra, que não conheci. Não tinha idade para entrar. Tampouco conheci os do Rio. Mas recordo a inauguração do Quitandinha, num prédio belíssimo, que fechou quando da proibição dos jogos por aqui. Hoje, não sei para que serve. Agora, em plena discussão, uma nova lei que permitirá a reabertura dos jogos no país. Torço por sua aprovação.
Dalton Mello de Andrade – Ex secretario de Educação do RN
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