De acordo com a origem da humanidade narrada na Bíblia, segundo o livro de Gênesis (Gn. 2.15-17), Deus colocou o homem no jardim do Éden para dele tomar conta e usufruir das benesses daí advindas. Está lá escrito: “E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás”. No capítulo 3, versículo 3, também de Gênesis, a localização geográfica da árvore (um item norteador deste artigo), fica bem explícita, conforme diz o texto: “Mas, do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais”. Portanto, a localização da árvore no meio do jardim se constituiria um problema contínuo para o homem, haja vista a proximidade física dela para com ele, em contraposição à proibição.

                        Pelo texto bíblico, manifestando o desejo de Deus, ali tudo era harmonioso, inofensivo, e de livre acesso ao homem. O problema – aliás, o único problema – estava no meio do ambiente. Ao mesmo tempo em que representava a vitória, a conquista definitiva de um destino pleno de paz e prosperidade, o jardim (com a árvore proibida no seu contexto) ensejava também o enfrentamento permanente do homem com a tentação, com a curiosidade, com o desejo inato humano de desvendar o desconhecido, mesmo quando este desejo é operado no terreno da desobediência. Uma realidade, como se vê, a exigir-lhe um alto grau de renúncia, de obediência, de domínio próprio – ao que tudo indica elementos, àquela altura, ainda não amadurecidos no homem. O desfecho dessa história é por demais conhecido, embora, ainda hoje, cheio de distorções, lendas, sofismas e falsas interpretações.

                        O que o texto bíblico assegura é que o fruto da árvore, ao ser consumido, abriria ao homem o conhecimento do bem e do mal. O que, lamentavelmente, terminou acontecendo. Nos dias atuais, também temos nosso jardim, representado por tudo aquilo que recebemos de Deus para cuidar – e usufruir. O casamento, a família, a saúde, os sonhos, o conhecimento, a prosperidade nos negócios, os amigos… Conquistas, enfim, que se concretizam em nossas vidas diariamente sem nem ao menos percebermos e que, na maioria das vezes, pouco valorizamos. Entretanto, no meio de tudo, há sempre a necessidade da prática da renúncia, do exercício de contenção de nossos desejos mais caros (muitos dos quais inconfessáveis), como se, à semelhança do Éden, bem no meio das nossas pretensões, tivéssemos também a nossa árvore proibida sinalizando até onde podemos ir – materializando nossos próprios limites.

                        Desobedecer à orientação de Deus, abrir a cortina do desconhecido, vasculhar espaços antes inacessíveis, constituem atitudes que trouxeram conseqüências extraordinárias na vida do homem. Primeiramente, a responsabilidade de arcar com sua própria sobrevivência. Em segundo lugar, a obrigatoriedade de exercer o livre arbítrio com o conhecimento nítido da existência do bem e do mal, e a consciência de que, na consecução de qualquer iniciativa, estas duas realidades se farão sempre presentes – latentes, acessíveis, praticáveis. O que Deus permitiu ao homem, na essência do episódio, foi a capacidade de conviver no jardim tendo, no seu interior, condições de resistir e refrear a própria sofreguidão quando o que pretende alcançar transpõe o limite do ético, do moral, do legítimo, do recomendável. Resumo: o homem, o jardim, a árvore, o fruto do bem e do mal. Você é livre. Qual a sua escolha?

 Públio José – jornalista (publiojose@gmail.com)

Ponto de Vista

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