MEMÓRIA ACADÊMICA –
Há livros que têm o poder de gerar reflexões, são fadados a dar nascimento a novas obras literárias. A acadêmica e pesquisadora Leide Câmara escreveu “Memória Acadêmica”, obra enaltecida com o apoio do Instituto Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte – IFRN, e assim acaba de dar à memória cultural brasileira uma significativa mostra da terra potiguar. É trabalho exaustivo, de visão sintética sobre a vida e obra dos patronos e acadêmicos que honraram e hoje valorizam a Academia Norte-rio-grandense de Letras.
A edição é simplesmente primorosa, do projeto à realização gráfica. Um denso documentário com 700 páginas, ilustrado com algumas desconhecidas imagens fotográficas e desenhos a bico de pena do artista plástico Francisco Iran Dantas.
Leide é autora de livros como “Dicionário da Música do Rio Grande do Norte”, “A Bossa Nova de Hianto de Almeida”, “Luiz Gonzaga e a Música Potiguar”, “Ademilde Fonseca, a Potiguar no choro brasileiro” e “Praieira, a canção da Cidade do Natal”. Com este livro, ela se inscreve entre os renomados historiadores da Academia, como Veríssimo de Melo com “Patronos e Acadêmicos”, João Medeiros Filho com “Contribuição à História Intelectual do Rio Grande do Norte” e Armando Negreiros com “Na Companhia dos Imortais”. Há também ensaios importantíssimos sobre a Academia de autoria de Câmara Cascudo, Manoel Rodrigues de Melo, Dom Nivaldo Monte, Paulo Pinheiro de Viveiros, entre tantos.
A sociedade potiguar reconhece a Academia Norte-rio-grandense de Letras e confia nesta instituição cultural. O nosso modelo mais próximo é a Academia Brasileira (1897), o mais distante, a Academia Francesa, fundada em 1635 pelo cardinal-duc de Richelieu, sob o reinado de Luís XIII. Ambas não tiveram presença feminina homenageada, nem mulheres acadêmicas. Diferentemente dos modelos, a nossa Academia contou, desde a sua inauguração, com a participação feminina. Três mulheres no seu patronato, Nísia Floresta, Isabel Gondim e Auta de Souza, e duas acadêmicas, as poetisas Palmyra e Carolina Wanderley.
A grande função das Academias de Letras é atrair pessoas para as grandes causas do espírito. Os acadêmicos são chamados de imortais porque são sempre relembrados. Cada sucessor lembra os seus antecessores. Há uma tendência da responsabilidade quanto ao merecimento de ser sucessor. No Rio Grande do Norte, terra de bons escritores, a nossa responsabilidade é grande.
Sociedade civil, mantida por seus associados, com fins culturais, tem sede e foro na capital potiguar. A Academia Norte-rio-grandense de Letras é voltada para a luz. O lema da divisa, “AD LUCEM VERSUS”, é de autoria do Padre Luiz Monte. Fundada em 1936 por Luís da Câmara Cascudo, foi fecundada pelo seu entusiasmo e é obra de arquitetura do espírito, moldada por seu Mestre.
As atividades dos seus membros e o amor incondicional à cultura têm crônica pitoresca, ao lado das realizações estruturais. São quarenta mulheres e homens notáveis, de boa vontade, que prestam serviços ao Rio Grande do Norte, valorizando e mantendo nossa herança cultural.
Desde a sua fundação, a Academia Norte-rio-grandense de Letras ilumina os legítimos movimentos culturais do estado. A sua vitalidade é visível. Com mais de 80 anos, é uma menina nos feitos, nas aventuras, na disposição, nos trabalhos que desempenha.
Este livro registra cronologicamente a vida acadêmica. É precioso repositório sobre riqueza vital da Instituição. Leide Câmara traçou amplo panorama da existência intelectual do nosso estado nos últimos duzentos anos.
O livro está à disposição, na sede da Instituição e na internet, de estudiosos, pesquisadores, amantes da cultura.
Diógenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN