MEMÓRIA DEMOLIDA –
Para as pessoas de mais idade, a demolição de uma obra tradicional representa um golpe na memória, porque altera não apenas a geografia física do lugar, mas igualmente a sentimental.
Senti isso no sábado retrasado quando resolvi visitar a Galeria B-612, na tradicional rua Dr. Barata, quase toda destruída pelo descaso, representando um oásis no oceano do esquecimento dos anos famosos entre 1942 e 1945.
O fato repetiu-se neste último sábado, quando atendi ao chamamento para uma reunião da Academia Macaibense de Letras, outro oásis no pandemônio da desfiguração da cidade das macaibeiras, que já destruíra a casa de Auta de Souza, ameaça o Grupo que tem o seu nome e agora começa a demolir o casarão construído por Luís Cúrio Marinho, que vi ser construído e compareci à inauguração, quando vivia os melhores dias do começo da minha adolescência e gravei aquela construção de cores vivas, aquela primeira da Rua João Pessoa, à esquerda logo que se atravessava a ponte em direção ao centro.
Essa casa fazia parte da minha vivência naquela terra hospitaleira, quando morei numa velha construção na Rua Pedro Velho, defronte ao Major Andrade, perto dos Maciel, dos Leiros, dos Fagundes e dos Marinho, do Cine Independência e do antigo Pax, que ostentava um belíssimo quadro do balão de Augusto Severo, que um dia alguém tocou fogo como coisa velha.
Na minha antiga morada, desfigurada arquitetonicamente, ainda restam os dois janelões no alto onde vislumbrava a rua e assistia à passagem de pessoas feridas, carregadas em cadeiras, para o hospital que ficava bem perto, logo depois da Igreja dos Crentes, prédios que ainda estão de pé, mas com destinação diferente.
A feira livre ainda funciona na mesma rua, mas também desfigurada, em menor extensão, sem o encantamento dos vendedores/cantadores de cordéis e dos animais de cargas que, na época do cio, desembestavam derramando os produtos que levavam para a venda. Hoje só automotores. Mesmo assim comprei algumas bananas prata, que me adoçaram a vida neste fim de semana.
Lembrei do mercado velho, defronte do obelisco de Augusto Severo, com suas árvores que davam sombras refrescantes, parada dos ônibus que traziam os jornais e os meus gibis, da passagem dos “mixtos” tocando nas buzinas as músicas de Luiz Gonzaga, senti falta da festa da padroeira com o pau de sebo e os cordões azul e encarnado. Onde está Padre Chacon, de quem fui coroinha nas procissões. E o meu Cruzeiro jogando no campo vizinho ao cemitério, que tinha algumas partidas interrompidas quando a bola caía no campo santo e ninguém encontrava em tempo dos últimos lampejos do sol (principalmente quando estava se saindo bem contra algum time de fora e este pressionando para a virada).
Carlos Roberto de Miranda Gomes – Advogado e Escritor, membro da AML e do IHGRN