Diógenes da Cunha Lima
“Sem a mulher, a vida é apenas prosa.” (Rubén Darío, 1867-1916).
Nenhum Estado brasileiro tem maior legitimidade para exaltar a participação feminina que o Rio Grande do Norte. De fato, já no século XVII, tivemos a primeira mulher guerreira do Brasil, Clara Camarão, comandando tropa para expulsão dos holandeses. Nísia Floresta (1810-1885) faz parte da pré-história do feminismo mundial e, já em 1832, publica Direitos das mulheres e injustiça dos homens. A primeira poetisa brasileira a receber o aval intelectual de Olavo Bilac foi Auta de Souza (1876-1901). Tivemos o voto feminino, em 1927, antes de muitos países, como a Itália, França, Espanha, toda a América Latina. A primeira prefeita, a primeira deputada foram daqui. A educação suíça no trópico, expressão da escritora Eulália Duarte Barros, foi pioneirismo de Natal, com a Escola Doméstica. Sobre esse tema, não nos faltam estudiosos superiores, como o “mulherólogo” acadêmico João Batista Cascudo Rodrigues.
Deve-se ressaltar a contribuição da mulher à civilização. Não é justo que se esqueça, apesar do difícil acesso à instrução e à cultura, que uma mulher conquistou o Prêmio Nobel em 1903 (de física), em 1905 (da paz), em 1909 (literatura).
O valor simbólico da representação da mulher é antiqüíssimo. A Vênus de Willendorf, encontrada na Áustria, entalhada em pedra, data de 30.000 a.C.
Mulheres notáveis sempre existiram, ainda que relegadas a segundo plano. Lembremos a rainha do Egito, Nefertiti (século XIV a.C), cujo busto enobrece o Museu de Berlim; a rainha Isabel (1451-1504) deu dimensão territorial à Espanha que ela tem hoje; a ucraniana Golda Meir (1898-1978), foi primeiro-ministro forte de Israel. Indira Gandhi (1917-1978) governou a Índia. Eva Perón (1919-1952), ainda hoje cultuada por sua participação política na Argentina, trouxe sua beleza e inspirou poetas em Natal. A rainha Ginga (1580-1663) que tentou libertar o seu país africano, ainda é cantada em autos populares em nossa cidade. Jacqueline Kennedy (1929-1994) tornou-se símbolo da beleza e da elegância da mulher americana. Em domínios mais profundos, a italiana Maria Montessori (1870-1952) ensinou a ensinar, a aproveitar as tendências do estudante, a aprender brincando.
Vamos fazer a construção da memória coletiva: o memorial da mulher universal, em que mostre o mérito daquelas que conquistaram, legitimamente, a fama. As que se destacaram nas artes, nas ciências, na política e no poder. Esse memorial irá se contrapor aos preconceitos e à violência contra a mulher. É bom lembrar que ainda vivemos época em que mulheres são proibidas de votar (Arábia Saudita), que mulheres, em muitas partes do mundo, são sexualmente mutiladas e outras tantas são estupradas cotidianamente. Na Turquia, uma mulher pode ser apedrejada, por sua família, até a morte se engravida do namorado.
Idealizando a construção do memorial da mulher em local de beleza, preferivelmente no Município de Nísia Floresta, imaginamos que o projeto resultaria de Concurso Nacional que estimularia grande participação de arquitetos do Brasil face a prêmio valioso atribuído pelo Poder Público.
Certamente o memorial, de usufruto dos norte-rio-grandenses, despertará grande interesse cultural e turístico.
Diógenes da Cunha Lima – Escritor, poeta e presidente da Academia de Letras do RN