Foram mais de 3 anos de uma missão recheada de avanços científicos: o principal feito foi justamente o de ter sido o primeiro veículo fabricado pela humanidade a realizar um voo motorizado e controlado em outro planeta.
Segundo a Nasa, o fim da missão ocorre por causa de um dano que sofreu em sua hélice – ou em mais de uma, já que a agência espacial norte-americana não sabe ainda ao certo a extensão dos danos do acidente ocorrido após um voo vertical (veja foto abaixo).
“Este notável helicóptero voou mais alto e mais longe do que alguma vez imaginamos e ajudou a Nasa a fazer o que fazemos melhor – tornar possível o impossível”, disse o administrador da agência, Bill Nelson.
E não é demais falar que o Ingenuity fez história desde o momento que chegou em Marte, dobrado e acoplado à parte inferior do Perseverance, robô que pousou no planeta vermelho em fevereiro de 2021, na cratera de Jezero, região que já foi um lago há bilhões de anos.
A ideia inicial era que ele servisse como um dispositivo de teste tecnológico de curto prazo. Em três anos, porém, o helicóptero completou 72 voos, superando significativamente as expectativas da Nasa.
Durante esses voos, acumulou mais de duas horas no ar e percorreu 18 quilômetros, ultrapassando em mais de 14 vezes o seu trajeto planejado.
“É quase um eufemismo dizer que [o Ingenuity] superou as nossas expectativas”, acrescentou Lori Glaze, diretora da Divisão de Ciência Planetária da sede da Nasa em Washington.
1. Primeiro voo em outro planeta
Depois de fazer alguns testes de rotação, em 19 de abril de 2021, o Ingenuity fez o seu histórico primeiro voo motorizado e controlado na fina atmosfera de Marte, como parte de uma estratégia da agência espacial americana apenas para avaliar as condições de voo no planeta.
Na época, o helicóptero subiu a uma altitude de 3 metros, pairou e depois pousou na superfície marciana.
O rover Perseverance, que estava estacionado na região de “Van Zyl Overlook”, a cerca de 64,3 metros de distância na Cratera Jezero, registrou as operações de voo com suas câmeras (veja o gif abaixo).
Diferentemente do Ingenuity, o Perseverance ainda está completamente operante. Ele inclusive está no planeta como parte do Programa de Exploração de Marte da Nasa.
Isso porque o objetivo do projeto é não só melhor entender a formação e evolução inicial do astro, como também analisar a história dos processos geológicos que moldaram Marte ao longo do tempo e interpretar cientificamente o potencial do planeta já ter hospedado vida.
2. Voo com recorde no Guinness
Em quatro semanas de operação, o Ingenuity fez mais de quatro voos, totalizando 499 segundos e cobrindo 357 metros horizontalmente sobre a superfície de Marte.
Mas quase um ano depois, em 8 de abril de 2022, ele estabeleceu vários recordes com seu 25º voo, quando percorreu 704 metros pela cratera Jezero.
Oficialmente, segundo o Guinness, esse foi o voo mais distante em Marte até o momento.
Na ocasião, a sua câmera de navegação em preto e branco também fez um registro.
O aparelho fornecia dados em tempo real para o processador de navegação do Ingenuity, permitindo que ele reagisse ao terreno enquanto executava suas operações.
3. Mistérios da poeira marciana revelados
Durante o seu penúltimo voo em 6 de janeiro, o Ingenuity teve que fazer um “pouso de emergência”, aparentemente descendo mais rápido do que o planejado devido a problemas de navegação.
Doze dias depois, quando os controladores da Nasa tentaram fazer um pequeno voo vertical para determinar a localização do helicóptero, ele levantou voo, mas logo começou a descer antes de perder contato com o Perserverance. Segundo a Nasa, foi preciso fazer um pouso de emergência que acabou danificando o aparelho.
Mas apesar dessa falha no 72º voo, o Ingenuity mostrou que é possível voar em Marte. E mais além: também demonstrou como a exploração aérea pode ajudar futuras missões no planeta vermelho e em outros mundos.
☄️️ Usando dados dos seus voos, cientistas já estudaram, por exemplo, a dinâmica da poeira marciana, medindo o tamanho das nuvens levantadas pelo helicóptero e determinando sua densidade, tamanho e como elas se dispersam na atmosfera marciana.
Essa análise é importante por várias razões. Primeiro, entender a quantidade de poeira levantada pelo Ingenuity ajudou os engenheiros da Nasa a prever como a poeira pode afetar a visibilidade durante voos futuros de outras missões, garantindo a segurança das operações em Marte.
4. Pontapé para futuras missões
Dá para dizer então que a missão do Ingenuity também teve como propósito auxiliar o entendimento da ciência da geologia marciana, algo fundamental para os preparativos de uma possível viagem tripulada ao planeta.
Missões futuras da Nasa, em parceria com a ESA (Agência Espacial Europeia), por exemplo, buscarão coletar amostras marcianas para análise na Terra.
Esse projeto faz parte da abordagem de exploração da Nasa chamada “Da Lua a Marte”, que inclui as missões Artemis à Lua para preparar a exploração humana do planeta vermelho.
Fonte: G1