A “MENINA DOS OLHOS” DO REITOR –
Durante seu reitorado, Diógenes da Cunha Lima convidou-me para o cargo de Superintendente da FUNPEC – Fundação Norte-rio-grandense de Pesquisa e Cultura, que contava, na época, apenas com cinco pessoas: 2 técnicos e 3 funcionários administrativos. Ocupava duas pequenas salas no pavimento superior da Biblioteca Central Zila Mameme da UFRN, parte do espaço físico, anteriormente, havia sido o gabinete do Reitor.
Encontrava-me, pois, diante de um grande e arrojado desafio! Idealista por convicção e desejando imprimir um caráter inovador em sua gestão universitária, Diógenes cria o Projeto Rio Grande do Norte, daí em diante informalmente chamado de “menina dos olhos” do Reitor. Na verdade, o Projeto Rio Grande do Norte era um conjunto integrado de pesquisas e estudos sobre as potencialidades socioculturais e econômicas do nosso Estado. Estava dividido em três grandes eixos: o das Ciências Humanas e Sociais (políticas públicas); o Estudo sobre as Secas (semi-árido); e o Tecnológico (industrial e agropecuário).
O Projeto Rio Grande do Norte tinha como objetivo fundamental identificar, técnica e cientificamente, essas potencialidades para torná-las viáveis aos agentes operadores do desenvolvimento econômico e social da região (o governo e a iniciativa provada). Mas, estava bem claro que não cabia à Universidade o papel de substituir esses agentes operadores, quanto à execução, posto que a missão essencial da Universidade é educar, produzir conhecimentos e contribuir para o desenvolvimento integral da sociedade.
Eu disse que se tratava de um grande desafio para mim, e o era realmente. Em primeiro lugar, eu precisava conseguir recursos para “tocar” o assim denominado Projetão, que tinha como principal consultor o grande respeitado geógrafo pernambucano, professor Manoel Correia de Andrade, autor de vários livros e reconhecido em outros países. Precisava também de gente: pesquisadores e técnicos qualificados.
Havia, porém, um consultor, de nacionalidade belga, sociólogo, cujo nome não me lembro no momento, que passava mais tempo admirando e contemplando a natureza e a paisagem do semi-árido nordestino (que pra ele era coisa exótica) do que orientando a metodologia das pesquisas.
Como um “caixeiro viajante”, a maleta cheia de sub-projetos, tendo o otimismo e a coragem como aliados, viajei rumo à Brasília. Perambulei pelos corredores do CNPq, junto aos Comitês de Pesquisas, tentando “vender meu peixe”. De lá, fui à FINEP no Rio de Janeiro. Estive também na SUDENE, em Recife. De volta à Natal, após o périplo, percebi que a UFRN tinha de obter credibilidade científica para ser reconhecida e aceita por aqueles organismos.
Não desisti: adotei como companheirismo a paciência, a perseverança, e os versos do cantor e compositor Raul Seixas: “tente outra vez…”.
Aos poucos, fomos enviando projetos de pesquisa para todos aqueles Agentes de financiamento. Os frutos foram amadurecendo e os recursos financeiros começando a chegar.
Fato inusitado: certo dia, um motorista perguntou-me se pesquisadores que eventualmente lhe mandavam para o veículo na margem da estrada para recolher espécimes de animais peçonhentos, se aquilo era mesmo pesquisa ou era brincadeira?
Ao final de seu mandato, deixei a FUNPEC com 26 técnicos e funcionários, além de diversos pesquisadores dos Centros Acadêmicos da UFRN e cerca de 30 projetos de pesquisas em andamento.
Alcyr Veras – Economista e professor universitário