MENINAS SABEM DIRIGIR E MENINOS TAMBÉM CHORAM – Ana Luíza Rabelo

MENINAS SABEM DIRIGIR E MENINOS TAMBÉM CHORAM –

Brasileiros, sobretudo nordestinos, filhos do patriarcalismo e do coronelismo, têm o hábito de impingir o machismo na criação de sua prole. Não aquele machismo “sadio”, tido antigamente como cavalheirismo, em que o homem abria a porta do carro, pagava contas, exalava romantismo quando enviava flores e protegia a “sua garota”. O machismo de hoje é preconceituoso, praticamente, ensinado por “seu Lunga”, o anti-herói, personagem folclórico, objeto de piadas cuja tolerância é zero e o grau de brutalidade verbal é mil.

Potiguar e filha dos anos oitenta, perdi o advento da pílula e a queima de sutiãs, mas acredito que muito desse “lunguismo” que vemos espalhando-se nordeste/Brasil adentro tem muita relação com o querer, impossível, na minha visão, de a mulher ser igual ao homem, de trocar de lugar com ele. Antes de ser apedrejada pelas companheiras de sexo, eu quero me explicar.

Não falo de competência: ambos são igualmente capazes e inteligentes para produzir e progredir nas áreas em que desejarem, mas, resguardadas as diferenças pessoais, cada ser é único, e a evolução dividiu os sexos para que desenvolvessem características gerais diferentes. A mãe natureza, sabiamente, soube dividir as tarefas, para não assoberbar nem deixar ninguém na ociosidade. Uns caçavam, e isso exigia determinadas qualidades, outros plantavam, criavam animais e cuidavam da prole, o que requeria outros tipos de atributos.

Ser forte, ser grande, não é o mesmo que ser bruto e não ter sentimentos, não é fator impeditivo de chorar. Ser frágil, comunicativa, atenciosa, não é ser burra, incapaz, lerda ou má motorista. Todos, enquanto seres humanos únicos e independente do gênero, somos dotados de dons especiais, e lutar contra o sexo oposto não conta pontos, nem faz de nós criaturas melhores.

A natureza permite, e com sucesso, o matriarcado, pois conhecemos bem as sociedades, organizadíssimas, diga-se de passagem, das abelhas, cupins e baleias. Também já houve na raça humana sociedades matriarcais, inclusive indígenas na Amazônia, bem como celtas e as famosas amazonas gregas. Mas o fato é que as mulheres possuem muito mais encargos naturais que os homens e, como diria Rita Lee, “…Mulher é bicho esquisito/ Todo mês sangra/ Um sexto sentido/ Maior que a razão/ Gata borralheira/ Você é princesa/ Dondoca é uma espécie/ Em extinção…/ Por isso não provoque…” e, completando a transformação do novo mundo, Jorge Vercillo completa: “Hoje o herói/ aguenta o peso/ Das compras do mês/ No telhado, ajeitando/ A antena da tevê/ Acordado a noite inteira/ Pra ninar bebê…”

Até porque, biologicamente falando, não somos opostos, somos complementares, somos pares, que necessitam de uma junção para dar continuidade à raça humana, de modo que tornarmos-nos oponentes não trará vencedores, se ao final precisaremos uns dos outros para sobreviver. Assim, é importante que se fique completamente provado que não somos rivais, nem inimigos, somos parceiros que precisam aprender a conviver com suas diferenças e aceitá-las, sem disputas, sem questionamentos, sem porquês.

Ana Luíza Rabelo SpencerAdvogada – (rabelospencer@ymail.com)
As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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