Essa é a previsão da maior parte dos economistas do mercado financeiro, ouvidos pelo próprio BC em pesquisa semanal.
Se confirmada a nova redução, a Selic atingirá o menor patamar desde que o Banco Central começou a série histórica, há mais de 30 anos. O anúncio da taxa de juros acontecerá nesta quarta, por volta das 18h.
A expectativa dos analistas dos bancos é de que a Selic recuará para 4,5% ao ano em dezembro, que terá nova queda em fevereiro – para 4,25% ao ano –, e que assim permanecerá até setembro de 2020, quando poderá começar a subir.
A principal missão do Banco Central é controlar a inflação, tendo por base o sistema de metas. Para este ano, a meta central de inflação é de 4,25%, podendo oscilar de 2,75% a 5,75%. Para 2020, o objetivo central é de 4% (com oscilação de 2,5% a 5,5%).
Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas, o BC reduz os juros. Quando estão acima da trajetória esperada, a taxa Selic é elevada.
Para definir a taxa básica de juros, o BC já está de olho nas previsões de inflação do ano que vem. Isso porque as decisões levam meses para ter impacto pleno na economia. Para este ano, a previsão do mercado é de que a inflação fique em 3,84% e em 3,60% no ano que vem.
Segundo o economista-chefe do banco Haitong, Flavio Serrano, o aumento recente no preço da carne é um problema pontual, causado por um choque de oferta decorrente da peste suína na China.
“A política monetária [definição de juros] não tem efeito sobre isso. O que ela pode fazer é combater os possíveis efeitos secundários, como aumento no preço de frango, suínos, ovos e alimentação na rua”, avaliou.
Sobre o dólar, o analista observou que a alta da moeda é mais abrangente do que a da carne, podendo afetar também combustíveis e aluguéis por exemplo. Porém, assim como no caso da proteína, o repasse da alta do dólar é limitado pelo alto nível de ociosidade da economia brasileira (produção abaixo do esperado por conta do crescimento econômico ainda fraco).
“Apesar de dois choques na economia [carne e dólar], a posição de hoje é favorável, pois tem ociosidade elevada. Tem que ver quanto vai impactar o IPCA (…) E as bandas [do sistema de metas] são justamente para comportar esse tipo de choque. Talvez [o BC] tenha um pouco mais de cautela, sem cortes de juros em fevereiro, mas ainda não dá para pensar em alta [do juro básico]”, concluiu Serrano.
Impacto nas aplicações financeiras
A eventual redução dos juros básicos da economia afetará as aplicações financeiras, como a caderneta de poupança e os investimentos em renda fixa.
Isso porque, no caso da poupança, a regra atual de remuneração prevê que os rendimentos estão atrelados aos juros básicos sempre que a Selic estiver abaixo de 8,5% ao ano.
Nesse cenário, a correção anual das cadernetas fica limitada a um percentual equivalente a 70% da Selic, mais a Taxa Referencial, calculada pelo Banco Central. A norma vale apenas para depósitos feitos a partir de 4 de maio de 2012.
Se o juro básico da economia recuar para 4,5% ao ano, a correção da poupança seria de 70% desse valor – o equivalente a 3,15% ao ano, mais a Taxa Referencial.
Mesmo com a taxa Selic no menor patamar em décadas, os juros bancários seguem em níveis elevados para padrões internacionais.
Em outubro, segundo dados do Banco Central, a taxa bancária média (pessoa física e jurídica) somou 35,9% ao ano, enquanto que, para as pessoas físicas, totalizou 49,7% ao ano.
Em alguns casos, como no cheque especial e no cartão de crédito rotativo, estão acima de 300% ao ano. Recentemente, para combater esse problema, o BC anunciou o estabelecimento de um teto de juros para o cheque especial.
Dados do BC mostram que os cinco maiores conglomerados bancários do país detinham, no fim de 2018, 84,8% do mercado de crédito. Esse cálculo inclui os bancos comerciais, os múltiplos com carteira comercial e as caixas econômicas.
No ano passado, a rentabilidade dos bancos brasileiros ficou no maior patamar em sete anos e o lucro líquido dos bancos somou R$ 98,5 bilhões, recorde da série histórica que começa em 1994.