Apesar do risco de o Brasil entrar novamente em recessão, que tecnicamente se caracteriza por dois trimestres consecutivos de queda do Produto Interno Bruto (PIB), o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) não deve reduzir a taxa básica de juros da economia brasileira.
A previsão do mercado financeiro é da manutenção nesta quarta-feira (19) da taxa básica em 6,5% ao ano. Se confirmada, esta será a décima manutenção seguida da taxa Selic, que permanecerá no menor patamar da série histórica. A decisão será anunciada por volta das 18h.
A definição do patamar do juro básico acontece em um cenário de fraco nível de atividade, e desemprego ainda elevado.
No primeiro trimestre deste ano, segundo dados oficiais, o PIB teve retração de 0,2% e, em abril, indicador do BC mostrou recuo de 0,47%. Dois trimestres seguidos de queda no PIB representam recessão técnica.
“É muito provável que o PIB do segundo trimestre fique muito perto de zero, aproximando-se dele pelo lado negativo. Seria o terceiro trimestre consecutivo de crescimento muito baixo, com chance de abrir uma recessão técnica, caso seja um número negativo”, avaliou o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Pedro Paulo Silveira, em análise.
Para o Departamento de Pesquisa Macroeconômica do Itaú Unibanco, o Copom aguardará até que haja “maior clareza sobre as perspectivas para as reformas econômicas, em particular, quanto à reforma da Previdência” antes de promover redução nos juros.
Ao contrário de outros bancos centrais, como nos Estados Unidos, que também se preocupam com o crescimento econômico, a principal missão do Banco Central do Brasil é controlar somente a inflação, tendo por base o sistema de metas.
Para este ano, por exemplo, a meta central de inflação é de 4,25%, podendo oscilar entre 2,75% a 5,75%. Para 2020, a o objetivo central é de 4% – com oscilação autorizada de 2,5% e 5,5%.
Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas, o BC reduz os juros. Quando estão acima da trajetória esperada, a taxa Selic é elevada.
Para definir a taxa básica de juros neste momento, o BC já está de olho nas previsões de inflação do ano que vem. Isso porque suas decisões demoram meses para terem impacto pleno na economia.
Para 2020, a estimativa do mercado financeiro para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país, está em 4% – exatamente em linha com a meta para o período. O próprio BC também estima uma inflação de 4% para o próximo ano.
Em maio, durante audiência pública no Congresso Nacional, o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, afirmou que o Brasil não pode trocar inflação controlada por crescimento econômico. Segundo ele, essa estratégia já foi testada no passado e não funcionou, gerando recessão.
“Ter inflação mais alta para ter um crescimento mais alta é errado”, declarou naquele momento, acrescentando que isso poderia gerar o chamado “vôo de galinha” (crescimento baixo e momentâneo).
“Se não der algum comunicado, vai ficar estranho. Acho que vai se posicionar mais claramente sobre o espaço para cortes de juros”, declarou o economista-chefe da Necton Corretora, André Perfeito.
Para ele, o Copom começará a reduzir a taxa Selic no fim de julho, após ter uma visão mais clara sobre a tramitação da reforma da Previdência Social no Legislativo.
Até momento, a aposta de grande parte do mercado, segundo pesquisa com mais de 100 instituições financeiras realizada na semana passada, é de que a taxa Selic comece a cair em meados de setembro próximo, e que termine este ano em 5,75% ao ano.
Embora os juros básicos estejam no menor patamar da série histórica do Banco Central, as taxas cobradas pelas instituições financeiras ainda seguem em patamares elevados.
Reduzir os juros bancários é um dos desafios apontados por economistas para o governo.
Dados oficiais mostram que, em abril, os juros bancários médios nas operações com pessoas físicas somaram para 53,6% ao ano. Em algumas modalidades, como no cheque especial e no cartão de crédito rotativo, os juros ficaram ao redor de 300% ao ano.
As altas taxas de juros, atualmente cobradas pelos bancos, inibem o consumo e também os investimentos na economia brasileira, avaliam analistas.
Dados do BC mostram que os cinco maiores conglomerados bancários do país detinham, no fim de 2017, 84,8% do mercado de crédito do país no fim de 2018.
No ano passado, a rentabilidade dos bancos brasileiros foi a maior em sete anos, e o seu lucro bateu recorde.
Fonte: G1
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