MEU QUERIDO –
Algumas pessoas recebem minhas mensagens com esta saudação: oi, meu querido!
Um jeito carinhoso de demonstrar sua importância em minha vida.
Porque o mundo está tão duro, tão cruel, tão conturbado, que acredito piamente que um pouco de doçura não pode fazer mal a ninguém.
Só que estou errada!
Errada como o diabético que decide comer meio bolo de chocolate porque “é só desta vez” e não poderia fazer mal a ele. Faz mal!
Então, doçura faz mal. Seja excesso de leite condensado ou, que pena!, um “oi, meu querido”.
Mais uma vez vejo que estou errada e suspeito que não será a última vez que isto aconteça comigo.
Erramos o tempo todo. Ou só eu? Acredito que através do erro aprendemos muito mais sobre quem somos e nosso potencial. E isso não é conversa de mãe ou de professora. Olho para trás e vejo os erros cometidos e entendo hoje que não posso repetí-los. Aprendi a lição.
Só não consigo decidir se os maiores erros são o não fazer ou o fazer. Arrepender-se do silêncio ou da palavra dita? Da ação ou da inércia? O que seria melhor ou menos ruim?
Pego-me pensando nesta variedade de “ou” mais uma vez e tentando entender como um “meu querido” pode ser interpretado de forma errada.
Porque algumas vezes ele é.
O mundo duro e desafetuoso não permite espaço para carinho. Ele é confundido com liberdade. E liberdade se confunde com libertinagem. E libertinagem vem ao desrespeito.
Penso em quantas mulheres podem estar passando por isso agora, neste momento.
Não sou feminista, sexista, fashionista. Tenho receio de bandeiras levantadas com muito afinco.
Como diria Lennon: one, two, three, four! Everybody’s talking about bagism, shagism, dragism, madism, ragism, tagism, this-ism, that-ism, ism ism ism…
Porém…
Porém não acho justo precisar justificar um “meu querido” para alguém que acha que isso lhe dá espaço para avançar o sinal vermelho.
Porém…
Porém tenho medo do silêncio conivente de outras mulheres que se sentem acuadas com este sentimento masculino.
Por isso escolhi o silêncio ao que deixou de ser meu querido e as palavras para que não nos sintamos sozinhas…
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, Professora universitária e Escritora