MEU TIO PELÚSIO II –

Mais algumas estórias de Pelúsio. Desta vez, à medida que vêm a memória, sem preocupação com a sequencia. São interessantes de qualquer jeito.

Uma das mais interessantes, e que não é piada. No tempo da guerra, Pelúsio, e os seus outros três colegas da Saúde do Porto, viviam praticamente em Parnamirim. Uma luta constante para revistar os aviões que vinham da África a procura desses mosquitinhos que hoje fazem a festa no Brasil, o anófeles gambie. No tempo da guerra, não entrou um único em Natal, graças ao trabalho desse pessoal. Os aviões só abriam as portas e desembarcavam os passageiros, depois da vistoria. No auge da guerra no norte da África, o movimento aumentou muito e os americanos se dispuseram a ajuda-los e colocaram um grupo médico à disposição da Saúde local. Foi um trabalho épico desse grupo. E os americanos cooperaram integralmente, cumprindo as instruções recebidas sem titubear.

Esse meu tio era uma grande figura, em todos os sentidos. Caxias no cumprimento de seu dever, aproveitava as horas vagas para fazer o que gostava. E as aproveitava bem. Todos os dias tomava o seu conhaque, antes de ir para casa. Nair tinha um cuidado exagerado com ele, e queria controlá-lo. Ele fazia de conta que aceitava, mas fazia tudo ao modo dele. Por conta desse relacionamento em casa, lembro-me duas ótimas, uma com Solon Galvão Filho (Solozinho). E a outra com Dom Eugênio.

A de Solon é ótima. Chegou para se vacinar no final do expediente. Pelúsio pediu uma carona (ele não tinha carro, nem sabia dirigir). Quando iam passando em frente a Capitania dos Portos, Solon perguntou onde ele queria ficar. Respondeu: o mais longe possível da minha casa. Ainda ia tomar seu aperitivo.

A de Dom Eugênio é genial. Tinha um chofer de carro de aluguel (não se chamava táxi) no Grande Ponto, Manoel Henriques, que tinha um carro igual ao de Dom Eugenio. Pelúsio contratou com ele e explicou seu plano. Ele desceria do carro na casa dele e diria que Dom Eugenio tinha mandado buscá-lo para uma emergência. Ia visitar um doente para dar extrema-unção e queria um médico do lado dele. Nair assistindo tudo e aconselhando que ele fosse imediatamente. Foi, tomou umas e outras, e uma duas horas depois voltou para casa. Sabia que a mulher estava protestando atenção, virou-se para o banco de trás do carro e disse: boa noite, Dom Eugenio. Quando precisar estou a sua disposição. Quando entrou, Nair estava esperando por ele e ainda elogiou sua boa ação.

Para encerrar por hoje. Dele com Ernani Rosado. Quando o navio da Academia de Marinha Mercante do Maine veio visitar Natal, Pelúsio foi a bordo com Ernani. Foram lá fora, ainda em alto-mar, para apressar os tramites legais, na lancha do Prático. Quando chegaram lá, havia uma escada de cordas pendurada para o Prático e eles dois subirem. Pelúsio, nessa época, já estava em redor dos cinquenta anos, ou mais. Ele alertou Ernani como devia fazer para pegar a escada e subir. Lá em cima, o Comandante os recebeu e Ernani explicou que tinha trazido o médico da Saúde para apressar os trâmites legais para um navio estrangeiro. O Comandante colocou-se à disposição, o que o médico desejava e entregou os documentos à Pelúsio, que examinou tudo, disse que estava tudo certo, mas queria ver se os tripulantes estavam vacinados contra febre amarela. O Comandante abriu um arquivo enorme e Pelúsio começou a olhar as fichas. Aí Ernani disse: Pelúsio, este é um navio escola, com mais de quatrocentos cadetes, não acredito que você queira olhar ficha por ficha. Cumprem todas as exigências internacionais, não iriam sair dos EUA irregulares. Dá uma olhada em umas quatro ou cinco e dá por encerrada a missão. Pelúsio concordou, deu por encerrada a missão, e o Comandante os convidou para tomar uma. Até Ernani aceitou.

 

 

 

Dalton Mello de Andrade – Escritor, ex-secretário da Educação do RN

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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