MEYA PONTE: UM PASSADO REDIVIVO – José Carlos Gentili

MEYA PONTE: UM PASSADO REDIVIVO –

Pirenópolis é a tradição a refluir no tempo.

São os becos a espiarem os transeuntes numa sinergia com o antepassado.

É vida, é história, são estórias a desfilarem no cromatismo branco e azul do casario centenário.

 

Paredes de pau-a-pique, muros centenários de adobe, a vislumbrar a exuberância da terracota milenar, mostrando-nos a arquitetura e a engenharia de antanho.

Algo surreal para nossos dias, mas real, verdadeiro e singular, a reverberar o passado com suas matrizes vivenciais.

Pirenópolis, antiga Meya Ponte, tem cheiro de tradição.

Mostra-nos que o Tempo, criação dos homens, não interfere na Natureza, mas apenas acompanha o badalar dos sinos da Igreja Matriz.

Socavão goiano, singrado pelo córrego Meya Ponte, aurífero, de entranhas milenares.

É a vetusta Meya Ponte, sonolenta, bucólica, contando-nos acerca de seu mundo mágico do ouro, do bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, do Comendador Joaquim Alves de Azevedo, da sua Babilônia rural e majestática (Engenho São Joaquim), que chegou a hospedar o botânico Auguste de Saint Hilaire, que herborizava na hinterlândia do país.

É a Meya Ponte, polo cultural, onde o Padre Luiz Gonzaga de Camargo Fleury, estabeleceu a primeira biblioteca de Goyaz.

É a florescente Meya Ponte que imprimiu o primeiro jornal, em 1830, a Matutina Meyapontense, após buscar em Paris a impressora, que foi trazida do Rio de Janeiro em carro de boi numa incrível epopeia.

Gente que pensava grande!

Era o apogeu dos veios auríferos, fazendo com que a filha de Azevedo se empoasse com pó de ouro, acrescentando aos viventes, que era mais fácil o rio Meya Ponte mudar o curso natural, do que ela morrer pobre!

O brocardo latino e o primeiro jornal dos grotões do Centro-Oeste brasileiro – o Matutina Meyapontense-, expressariam melhor: vanitas vanitatum omnia vanitas, segundo Eclesiastes.

Ensandecida pelo auri sacra fames, terminaria a vida como esmoler nas ruas do então arraial.

Maldita fome do ouro, no dizer poético de Virgílio, a condenar a ambição humana, desmedida.

 

 

 

 

 

José Carlos Gentilli – Escritor, membro da Academia de Ciências de Lisboa e Presidente Perpétuo da Academia de Letras de Brasília

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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