MINHA CRÔNICA NATALINA –

Nunca entendi a razão de eu conviver com uma tristeza crônica enquanto todos desfrutavam de momentos felizes durante as festividades natalinas. Isso começou por volta dos meus 40 anos de idade. Sentia mais tristeza no Dia na Natividade do que no Dia de Finados. Depois de carregar silente, por um bom tempo, o peso incômodo dessa inversão sentimental eu resolvi dar um basta.

Pesquisei em literatura apropriada, conversei com amigos, dialoguei com psicólogos e descobri que outras pessoas compartilhavam de igual distorção emotiva. Ao constatar não ser o único a ficar triste durante o limiar de cada ano pude melhor administrar a peculiaridade do transtorno. Assumi nova postura para participar das comemorações do Natal e do Ano-novo ao lado de meus entes queridos, com entusiasmo moderado, porém renovado.

O estresse, a depressão e a manifestação de outras doenças psicológicas são comuns nessa época do ano. O Natal evoca lembranças da infância, e traz à tona fatos passados que deixaram boas ou tristes recordações. Faz-nos pensar no que construímos ao longo do ano e nas frustrações decorrentes de insucessos.

No período das festividades de final de ano é quando analisamos os relacionamentos familiares: se estão bons, deteriorados ou se deles só restam mágoas. A proximidade do encerramento de cada ano aumenta o desejo de recuperar afetos perdidos e de materializar as expectativas que se arrastaram ao longo dele. Por outro lado, aqueles que acreditam que a vida será melhor no ano seguinte podem sofrer crises de ansiedade, e assim azedar a doçura da época.

O Natal evoca sentimentos relacionados à nossa história e ao passado. Ele nos reporta ao tempo em que esperávamos o Natal e o Ano-novo, para receber presentes e confraternizar com pessoas próximas. O complicador da festa são as lembranças de entes queridos ausentes ou falecidos. Aí não tem como evitar brotar a saudade, decorrente da impossibilidade de materializar tais presenças nas festividades.

Sem dúvida, grande parcela da tristeza do Natal é alimentada pelas recordações de pessoas amadas que partiram de vez. O Natal é a ocasião que melhor traduz esse sentimento de perda. É só admirar as mesas com a culinária típica da época, os enfeites das árvores de Natal e os pacotes com presentes, para relembrar entes queridos ausentes, que compartilharam conosco de Natais inesquecíveis.

Então, explode a vontade de retornar ao tempo em que a casa ficava repleta de familiares, com as crianças ainda pequenas e a vida fluindo na felicidade daqueles instantes mágicos.

Recordar os Natais do passado é uma prática salutar, desde que não os abarrotemos de lembranças tristes. Priorizando o pesar transformaremos o Natal-Alegria no Natal-Finados. Será como vivenciar o Natal com pensamentos voltados para as perdas, e não para os ganhos. Tal preocupação faz esquecer o encanto e a alegria das crianças com o Papai Noel, bem como embotar o deslumbramento da festa. É deixar de aproveitar a presença de vivos queridos para exaltar, tão somente, a memória de mortos estimados.

O Natal é nascimento e um tributo à infância e às mães. Mas não se restringe a isso. Não é apenas um momentâneo espasmo de generosidade e de bondade. Não é somente a ocasião para uma oração rápida, uma palavra bonita, para comidas, bebidas e festas.

O verdadeiro espírito do Natal é festejar a chegado do Filho de Deus, mandado ao mundo para perdoar as falhas dos homens e lhes mostrar o caminho da Salvação. Em síntese, o Natal é uma exaltação ao amor. Esqueçamos, pois, as tristezas, e desfrutemos todos, da alegria de um Feliz Natal!

 

 

 

 

 

José Narcelio Marques Sousa é engenheiro civil

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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