MINHA PEQUENA NATAL –

Estou em Cotovelo, precisei ir ao médico em Natal, no retorno já ao anoitecer passo pela Prudente de Morais e peço ao motorista para parar em um poste que era o nosso Quartel General quando adolescente, vou até lá e debaixo da luz, começo a pensar no passado, tempo que estudava no Colégio 7 de setembro e no Atheneu Norte-Riograndense.

O motorista buzina e me diz – Dona Alzira quer falar com o senhor! Olha diz para ela que estou indo e chego já em casa. Entro no carro, deito o banco e começo a pensar naquela época, época totalmente diferente da de hoje. Íamos para escola geralmente em grupos, ou de ônibus. Raríssimo aquele que o pai ia deixar de carro, não tínhamos cotas, não tínhamos celular e nem computador. Os nossos estudos eram transmitidos pelos professores e aperfeiçoados pelos cadernos ou livros. As pesquisas eram nas bibliotecas ou nas enciclopédias. Lembro-me de algumas: a Grande Enciclopédia Larousse, Barsa entre outras.

Quase todos nós tínhamos apelidos, eram: Macaco, Olho de Gato, Careca, Pafum, Pintinho, Maria Gorda, Fon-Fon, Burrão, Avestruz, Torrão, Brucutu, Olivia Palito, Gostosa, Bunduda, Nega do cabelo duro, e tudo corria normalmente, as vezes uma briguinha, mas, nada que não fizesse as pazes no outro dia, com um aperto de mão ou um abraço.  Não tinha essa besteira do politicamente correto, tudo para nós era correto, até lascar a cabeça com  uma pedrada  fazia parte da nossa constituição infantojuvenil.

As nossas brincadeiras eram quase todas com risco de ferimentos leves ou graves. Andávamos de bicicleta sem capacetes e vez por outra uma perna ou um braço quebrado, e os amigos iam visitar e escrever o seu nome no gesso. Futebol na areia ou na calçada e peft, o “chaboque” do dedo ou a unha pulava fora. Tudo bem, corria para casa e era socorrido com mertiolate ou mercúrio que eram usados nessas ocasiões. No outro dia íamos para o colégio com um pé calçado com sapato e o outro calçado com um chinelo, e a festa estava feita. Brincávamos com carro de rolimã que chamávamos de carro de cocão, geralmente procurávamos as maiores ladeiras, e a da Rádio Poti era a preferida.

Com as meninas brincávamos de bandeirinha, tica, esconde esconde, academia, tou quente tou frio, tomávamos banho de chuva e passar o anel entre outras.

Tínhamos aula de canto, e catávamos o Hino Nacional e o Hino da Bandeira, desfilávamos no dia 7 de setembro e quando um professor entrava em sala de aula, todos ficávamos em pé.

Respeitávamos os mais velhos e bom dia, boa noite fazia parte do nosso protocolo educacional. A educação era dada em casa. Era assim a minha geração;

– Dotô Augusto! Dotô Augusto, acorda que já chegamos em Cotovelo.

Desci do carro, me despedi do motorista, fechei o portão da garagem e entrei pensativo.

 

 

 

 

Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor, membro do IHGRN

As opiniões emitidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
Ponto de Vista

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  • Como o subconsciente do amigo Guga expressou com tanta nitidez a história de uma geração que marcou momentos momoraveis dos nossos inesquecíveis tempos. Parabéns valoroso amigo e basqueteiro do velho Santa Cruz do nosso Cristalino Fernandes.

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