MINHAS LIVRARIAS EM ROMA I –
Faz alguns anos, acho que foi em 2013, pela época da Páscoa, passei uma temporada em Roma, coisa de dois meses, tendo aulas de italiano na ótima Dilit International House (Via Marghera, 22). Além de estudar diletantemente o idioma do meu querido Umberto Eco (1932-2016), preparava-me para participar, logo em seguida, com um mínimo de proficiência linguística, do 1º Encontro Internacional da Associação Nacional dos Procuradores da República – ANPR, que teria lugar ali, com aulas na celebrada “Accademia Nazionale dei Lincei”, no Palazzo Corsini (Via della Lungara, 10), na Cidade Eterna.
Na maior parte da minha estada em Roma, fiquei hospedado num pequeno hotel (Yes Hotel Rome – Via Magenta, 15), nas imediações da Estação Termini, a principal estação de trens e metrô da urbe, no Rione Esquilino (que é um dos “bairros” ou subdivisões do centro de Roma), por onde ficam, diga-se de passagem, duas das minhas igrejas romanas preferidas, Santa Maria Maggiore e San Pietro in Vincoli.
Tendo sempre na sacola um livro/guia que adquiri assim que cheguei por lá, o “Guida alle librerie indipedente di Roma: 105 librerie dela capitale com la mappa ai rioni storici e al quartieri della Città Eterna” (NdA Press, 2011), de Roberta Barbi, Sara Regimenti e Egilde Verì, era dali que eu partia, quase todos os dias, como gosto de fazer nas cidades que visito ou passo uma temporada de estudos, em busca dos comércios de livros. Esse guia me foi muito útil, já que Roma, outrora “caput mundi”, é uma cidade enorme.
As descobertas de livrarias e sebos, que ora repasso para vocês, foram muitas, a começar por aquelas na própria região do Esquilino e arredores, especialmente pelas abas do Quirinale (outro famoso Rione de Roma). Logo no primeiro dia, bem pertinho do hotel, dei de cara com as muitas barracas de livros seminovos e usados que ficam nas imediações da Piazza della Repubblica (que é de facílimo acesso pela estação de metrô de mesmo nome), sobretudo na Via delle Terme di Diocleziano (Termas cujas ruínas foram utilizadas para a construção da igreja de Santa Maria degli Angeli, obra de Michelangelo), tipo de comércio tão comum nas cidades europeias, a exemplo de Paris (à margem de uma grande parte do rio Sena), Londres (na margem sul do Tâmisa, em frente ao BFI) e Madrid (na ladeira conhecida como “La Cuesta de Moyano”, que margeia o Real Jardim Botânico). Foi ali que eu adquiri, lembro-me muito bem, uma edição de “Il nome della rosa” (Editora Bompiani, 1987), do meu amigo Umberto Eco, que, tendo começado já algumas vezes, não tenho tido persistência para continuar a ler em italiano. Ali voltei várias vezes, sempre em busca de algo não achado.
Também não foi muito difícil dar de cara com a “Borri Books”: ela fica dentro da Estação Termini, por onde eu passava quase todo santo dia, saindo ou voltando de “casa” (pelo que sei, embora apenas de ouvir dizer, há uma outra “Borri Books” na Estação Tiburtina, que é a segunda maior estação ferroviária de Roma). A “Borri Books” se diz um “oásis cultural” na Estação Termini, que é certamente uma das mais movimentadas da Europa, se não a mais movimentada. Concordo. Antes de tudo, é um ponto de encontro e calmaria para quem circula naquela loucura. É muito bonita e funcional. É Moderna, posso dizer. E seu acervo é grande, bem diversificado, internacional, em várias línguas, para atender a todas as tribos e credos.
Ainda por ali, muito pertinho, quase na confluência dos Riones Esquilino e Quirinale, nos números 254/255 da famosa Via Nazionale (estações de metrô Repubblica ou Termini), fica a “Libreria IBS+Libraccio Roma”, o comércio de livros que mais frequentei em Roma. E para mim, portanto, de um ponto de vista bem pessoal, o melhor. É uma loja física da livraria virtual “Ibs.it”. É gigante, com vários andares e ambientes. Nela, visualmente, no teto e nas paredes, predomina o branco, o que, com a mistura das cores dos livros, a torna belíssima. Seu acervo é enorme e variado: livros acadêmicos (novos e seminovos), ensaios variados em história, filosofia, política etc., ficção, poesia, livros para crianças e adolescentes, muitos livros em promoção, músicas e filmes em CD e DVD (pelo menos na minha época, já que isso é produto comercialmente em extinção) e por aí vai. Em resumo, tem de tudo. Um único problema é que fecha cedo, coisa de 20 horas, o que, de resto, infelizmente, parece ser algo comum com os comércios de livros de Roma.
E antes de terminar com as minhas andanças pela região dos riones Esquilino e Quirinale, vai uma última “dica livresca”: a “Biblioteca Nazionale Centrale di Roma”. Localizada no número 105 da Viale Castro Pretorio (estação de metrô Castro Pretorio), ela é, de par com a “Biblioteca Nazionale Centrale di Firenze”, uma das duas mais importantes bibliotecas públicas da Itália. É depósito legal de livros, tendo como missão recolher e salvaguardar exemplares de todos os livros publicados na Itália, além da maioria daqueles publicados no estrangeiro sobre o país, tornando-os disponíveis para o grande público. Seu acervo é contado em alguns milhões, além dos muitos milhares de obras raras, como manuscritos e incunábulos. Foi fundada ainda no século XIX (cerca de 1875/1876). O prédio atual, gigante, modernista, é de 1975. À semelhança de outras grandes bibliotecas (tipo a “British Library”, a “Biblioteca Nacional de España”, a “New York Public Library” e por aí vai), ela é também um grande museu dedicado aos livros e ao conhecimento. Com certeza vale a pena passear, desavisadamente, por seus “labirintos”.
No mais, fiquem atentos, pois volto a esse tema – dos comércios de livros em Roma – nos nossos encontros das duas próximas semanas.
Marcelo Alves Dias de Souza – Procurador Regional da República, Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL e Mestre em Direito pela PUC/SP
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