MINHAS LIVRARIAS EM ROMA (III) –
Hoje, dando um fim à nossa série de artigos sobre a temática, vou tratar de alguns comércios de livros especializados da Cidade Eterna.
Começo logo por uma livraria que conheci meio sem querer, ao caminhar, pela Via Merulana, da Basílica Santa Maria Maggiore à Basílica di San Giovanni in Laterano, duas das minhas igrejas preferidas em Roma. Trata-se da “Libreria Rotondi”, que fica no número 82 da citada Via Merulana (metrô Vittorio Emanuele), ainda na região do Esquilino. Ela foi fundada por Amedeo Rotondi (1908-1999), escritor e filósofo versado nessas tais “ciências ocultas”, mas também editor e livreiro. A “Rotondi” se diz a livraria esotérica e espiritual mais antiga e tradicional da capital italiana. Não posso confirmar essa assertiva porque, além de ser meio desconfiado dessas afirmações de “mais antigo” comércio disso ou daquilo, tão comum nas cidades europeias, não estava lá para atestar o inusitado evento (da sua fundação). Mas uma coisa posso garantir: é um comércio sério, com livros novos e sobretudo usados e antigos, alguns deles consideravelmente raros. É um ambiente místico e espiritual, mas austero, à moda antiga, que vale a pena visitar.
Também espirituais, mas de uma forma bem mais próxima de nós, são as muitas livrarias católicas (essencialmente) do Vaticano, situadas na famosa Via della Conciliazione ou nas imediações desta, muito próximas umas das outras (metrô Ottaviano). Vão algumas: “Libreria Coletti” (Via Della Conciliazione, número 3), “Belardetti Libreria” (Via Della Conciliazione, 4), “Libreria San Paolo della Diffusione San Paolo” (Via Della Conciliazione, 16/20), “Libreria Ancora” (Via Della Conciliazione, 63), “Libreria Elledici” (Via Conciliazione, 26/28), “Libreria Internazionale Benedetto XVI” (já na Piazza Pio XII, número 4), “Libreria Leonina” (na paralela Via dei Corridori, número 16) e por aí vai. Peregrinei por elas a pedido do meu amigo Renan Pinheiro (autor do belo livro “Fátima e Pontmain: Aparições de paz em tempo de guerra”, editora Ecclesiae, 2015), à procura de uma biografia de Pio XII, que, segundo determinação enfática dele, tinha de ser “imparcial”. E voltei lá outras vezes, sempre aos domingos, já que nesse dia, quase invariavelmente, almoçava pela cidade do Vaticano com o cônego José Mário, outro amigo de Natal, que, à época, também estudava por aquelas bandas.
Mas não só de livrarias místicas ou religiosas vive Roma. Há, por exemplo, muitas livrarias especializadas em línguas estrangeiras, que não o italiano, partindo do pressuposto que este, o italiano, é idioma da Cidade Santa. Uma delas é a “Librairie Francaise”, que fica no número 23 da Piazza San Luigi de’ Francesi, pela qual passava – e dava uma xeretada –quase todos os dias, já que adorava matar o tempo ao derredor da Piazza Navona, muito próxima dali. Aliás, nessa mesma região, apenas um pouco mais ao norte, no número 60 da Via di Monte Brianzo, fica outra livraria de língua estrangeira, a “Libreria Spagnola”, que é excelente. E não muito longe, em direção ao leste, no número 120 da Piazza di Monte Citorio, ficava a “Herder”, livraria especializada em alemão, que, segundo andei pesquisando, fechou as portas (bom, de minha parte, eu não falo alemão mesmo). Já no que toca ao inglês, posso indicar, com a ajuda de Roberta Barbi, Sara Regimenti e Egilde Verì, autoras do “Guida alle librerie indipedente di Roma: 105 librerie dela capitale com la mappa ai rioni storici e al quartieri della Città Eterna” (NdA Press, 2011), pelo menos três estabelecimentos: a “Anglo American Book Co”, que fica na Via della Vite, 120 (metrô Spagna); a “Almost Corner Bookshop”, Via del Moro, 45 (no gostoso Trastevere); e a “Open Door Bookshop”, Via della Lungaretta, 24 (também no Trastevere). Para o fim a que se destinam, todas são muito boas. No mais, embora seja “Roma Caput Mundi”, não achei nenhuma livraria especializada em nosso bom e querido português. Paciência.
Recomendo, também, e até com bastante ênfase, duas livrarias especializadas em viagens. Uma é a “Libreria del Viaggiatore”, que fica no número 78 da Via del Pellegrino, nas beiradas do Corso Vittorio Emanuele II. A outra é “L’Argonauta”, que se acha na Via Reggio Emilia, número 89, não muito distante da Universidade de Roma “La Sapienza” (metrô Castro Pretorio). Nelas você vai encontrar muitos livros, sobretudo do gênero “literatura de viagem”, guias de turismo e de línguas, mapas, utensílios para o viajante e outras coisitas mais. Para quem gosta de viajar – o que é, tirando o avião, muitíssimo o meu caso –, elas são interessantíssimas.
Já para os amantes do cinema – que é também o meu caso – tenho uma sugestão de primeira linha: a “Altroquando”, que fica no número 80 da Via del Governo Vecchio, quase por detrás da Embaixada do Brasil na Itália na Piazza Navova. Tinha até uma segunda, a “Libreria del Cinema”, que ficava na Via dei Fienaroli, 31d, no miolo do Trasteve, mas, pelo que vi, ela infelizmente fechou as portas. O cinema era, aliás, quando da minha estada em Roma, um dos meus temas de interesse. De lá, cheguei a escrever sobre o “neorrealismo italiano” e, especificamente, sobre o filme “Ladri di Bicicletti” (de 1948, dirigido por Vittorio de Sica). Fiz até algumas “visitas turísticas” baseadas nas locações dessa película, coisa que, desde já, para Roma ou qualquer outra cidade cenário de um grande filme, recomendo.
Também não poderia deixar de mencionar a livraria que mais problemas me causou em Roma: a “Suspense”, que fica na Via Ceresio, número 87 (metrô S. Agnese/Annibaliano), especializada em “gialllo”, que é como eles, os italianos, chamam a literatura policial ou detetivesca. Os que me acompanham aqui já devem saber, essa literatura, policial ou detetivesca, é uma das minhas grandes paixões. Fica no “cafundó do Judas”, já no chamado “Roma Municipio II”. A livraria é muito boa na sua especialidade. Por lá, muito pertinho, ainda conheci o agradável parque da Villa Ada Savoia, que fica na Via Salaria. Mas caí na besteira de visitar a Catacombe di Priscilla, onde teriam sido enterrados os Papas Marcelino (pontificado 296-304) e Marcelo I (308-309). Ganhei uma noite de pesadelos.
No mais, termino aqui com a única livraria essencialmente jurídica que visitei em Roma: “Libreria Forense”, que fica no número 26 da Via Marianna Dionigi (metrô Lepanto), muito pertinho do Castelo de Sant’Angelo e no que posso chamar de “o setor jurídico de Roma”. Misto de livraria, sebo e antiquário de obras de direito, ela é, para Roma, “uma instituição em matéria jurídica”, como lembram as autoras do já citado “Guida alle librerie indipedente di Roma: 105 librerie dela capitale com la mappa ai rioni storici e al quartieri della Città Eterna”, onde profissionais e estudantes do direito encontram livros de direito e de ciências afins, novos e usados, desde o ano de 1940. Bom, de todas as livrarias aqui sugeridas, talvez seja esta a menos interessante, já que o direito é um tema deveras chatinho.
Marcelo Alves Dias de Souza – Procurador Regional da República, Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL e Mestre em Direito pela PUC/SP