Ciclistas, moradores e comerciantes do entorno do cruzamento das avenidas Hermes da Fonseca e Alexandrino de Alencar fizeram um protesto contra a construção de uma trincheira, anunciada pela prefeitura de Natal e cujas obras têm início previsto para o primeiro semestre de 2023. O ato aconteceu entre o fim da tarde e início da noite desta quinta-feira (4).
Os manifestantes usaram faixas com mensagens contra a obra viária. Vereadores da oposição também participaram do protesto. Segundo os participantes, a estrutura não vai resolver os problemas no trânsito das avenidas Hermes da Fonseca e Salgado Filho e poderá depreciar imóveis e comércios da região.
“Temos vários exemplos práticos que essas trincheiras não permitem a passagem de ciclistas. Disseram que vão ter dois quilômetros de ciclofaixas, sem qualquer interligação, ou seja que vão ligar canto nenhum a coisa alguma. Também tem a questão do custo dessa obra. Queremos que isso seja discutido com transparência, queremos discutir segurança viária e mobilidade”, afirmou Fabiano Silva, presidente de uma associação de ciclistas.
Um dos participantes do protesto foi o engenheiro civil Rubens Ramos, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e pós-doutor em Economia de Transportes. Ele afirmou que também é contra a construção da trincheira.
“Essa obra, nesse cruzamento, não tem necessidade, porque fisicamente sobra capacidade de tráfego. Os dados que a STTU fez, de contagem de tráfego, provam isso. Não há um problema aqui. Há um problema em toda a avenida Salgado Filho, na entrada de Natal, há vários problemas, mas não aqui”, afirma o professor.
“Outro aspecto é que esse tipo de obra é ruim para o pedestre, é ruim para o ciclista e ruim para o transporte público. É contra o conceito de cidade moderna. É um modelo ultrapassado, da década de 1970. Produz efeito negativo no entorno, deprecia os imóveis, os comércios declinam, alguns vão à falência. Ninguém constrói nada ao lado de viaduto, de trincheira, desse tipo de coisa”, acrescentou o professor.
Para o engenheiro, a prefeitura deveria se concentrar em resolver o gargalo no acesso da Zona Norte às demais regiões da cidade. De acordo com ele, a área onde a trincheira deve ser construída já tem uma densidade de veículos de padrão mundial, que não deverá mudar nos próximos anos, ao contrário da Zona Norte, que poderá triplicar o número de veículos, porém só conta com dois acessos às demais áreas da cidade.
O vereador Robério Paulino (Psol) afirmou que pretende fazer uma audiência pública na Câmara Municipal de Natal, a fim de debater os impactos da obra viária, que já teve o processo de licitação concluído, ao custo de R$ 24,2 milhões.
“A saída não é fazer mais túneis, mais trincheiras. A saída é outra. Os países europeus estão investindo em transporte coletivo. E ainda mais, fazendo uma obra sem discussão, de cima para baixo, imposta a moradores, lojistas e demais moradores do entorno”, afirmou.
O vereador Daniel Valença (PT), também se posicionou contra a obra e disse que muitos moradores da região sequer têm conhecimento sobra a obra.
“A nossa opinião é que são R$ 25 milhões para nove meses de transtornos que não vão resolver o problema do tráfego. Pelo contrário. É mais uma medida inócua, mais uma megalomania do prefeito, como outras obras”, afirmou.
Fonte: G1RN
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