A morte do presidente Ebrahim Raisi, o segundo homem mais importante na hierarquia do Irã, num acidente de helicóptero na província iraniana do Azerbaijão Oriental, lança os ingredientes básicos para desencadear uma briga feroz pelo poder na república teocrática islâmica. Cotado como um dos sucessores do aiatolá Ali Khamenei, Raisi imprimiu a marca totalitária e repressora no mandato iniciado em 2021.
No Irã, o presidente lidera o governo e age como executor; o líder supremo chefia o Estado, concentra poderes e a tomada de decisões estratégicas. Aos 85 anos e há 35 anos no comando da república dos aiatolás, o clérigo Khamenei será crucial na escolha de um candidato igualmente linha-dura para ocupar o cargo de Raisi, provavelmente por meio da convocação de novas eleições, em 50 dias.
Até lá, a chefia do governo será ocupada pelo primeiro vice-presidente, Mohammad Mokhber. Como observou o analista Jason Brodsky, da Iran International TV, a morte do presidente não mudará os fundamentos das políticas do regime: “O líder supremo permanece em sua cadeira e é o comandante-chefe constitucional.”
Rumores sobre a saúde deteriorada de Khamenei inflamam, contudo, as especulações sobre o seu possível substituto.
Desta forma, segundo Brodsky, a morte de Raisi tem o potencial de perturbar a política de sucessão, uma vez que ele seria um dos principais candidatos a ocupar o lugar do chefe dos aiatolás. O clérigo Mojtaba Khamenei, o segundo dos seis filhos de Khamenei, também é apontado como outro forte concorrente para ser o seu sucessor.
“Embora o nome de Mojtaba possa surgir, uma sucessão familiar seria politicamente problemática. Afinal de contas, primeiro Khomeini e depois Khamenei argumentaram que o governo hereditário sob o xá era ilegítimo e, portanto, teriam agora dificuldade em vender a liderança hereditária ao povo iraniano”, pondera, por sua vez, o exilado iraniano Shay Khatiri, observador do think tank Middle East Forum.
Ultraconservador, Raisi não era visto como um presidente popular entre os iranianos. Implantou a linha-dura na adesão estrita à lei islâmica, apoiando os serviços de segurança para reprimir dissidentes nos protestos que varreram o país após a morte da jovem Mahsa Amini, em 2022.
Ela estava sob custódia porque teria violado o código de vestimenta, também impulsionado no governo de Raisi. A onda de manifestações traduziu a insatisfação interna e resultou na detenção de mais de 22 mil pessoas.
Raisi não tinha, de forma alguma, o cargo de líder supremo assegurado. Embora a solução de continuidade do regime deva seguir adiante, sua morte trágica movimentará uma nova dança das cadeiras também em torno da sucessão de Khamenei.
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