A força-tarefa do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) começa a ouvir pela primeira vez, a partir desta quinta-feira (14), pacientes que usaram o ‘kit Covid’ fornecido pela Prevent Senior. Já está cientificamente comprovado que os medicamentos fornecidos pela operadora de planos de saúde são ineficazes contra a doença. Em outras palavras, não previnem e nem combatem o vírus.
Entre os remédios que fazem parte do chamado “tratamento precoce” estão a hidroxicloroquina, a cloroquina, a ivermectina e a flutamida. Eles foram dados pela empresa para pacientes com coronavírus. Alguns deles tiveram complicações de saúde e outros morreram após o uso nos hospitais da rede.
Diretores e médicos da Prevent Senior são investigados pelo MP e pela Polícia Civil por determinarem e darem o ‘kit Covid’ a pacientes com sintomas ou infectados pelo vírus. Por esse motivo, eles são suspeitos de terem cometido ao menos três crimes contra as vítimas: homicídio, falsidade ideológica e omissão de notificação de doença obrigatória às autoridades.
Em outras oportunidades, dirigentes da Prevent Senior disseram à imprensa que seus médicos têm autonomia para prescrever o ‘tratamento precoce’ aos pacientes. Mas médicos ouvidos pela reportagem alegam que, na verdade, eles eram ameaçados pela empresa para dar o ‘kit Covid’.
Um dos pacientes que deverá ser ouvido nesta quinta pelo MP é o advogado Tadeu Frederico de Andrade, de 65 anos. Beneficiário do plano da Prevent Senior, ele teve coronavírus e recebeu os medicamentos do “kit covid”.
Ouvido anteriormente em Brasília pela CPI da Covid, Tadeu falou que teve complicações ao tomar os remédios. Além disso, afirmou que a empresa cometeu uma série de irregularidades durante seu tratamento.
Mais depoimentos de pacientes deverão ocorrer na sexta-feira (14). Além disso, também serão retomadas as oitivas de famílias de pacientes que morreram de Covid nos hospitais da Prevent Senior.
Os seis promotores que integram a força-tarefa do MP-SP pretendem chamar para depor ao menos 21 pacientes ou familiares de pacientes e, no mínimo, quatro médicos. Os depoimentos desta quinta ocorrerão a partira das 14h30 no Fórum Criminal da Barra Funda, Zona Oeste da capital. Dois deles serão virtuais e um presencial.
Também serão ouvidos diretores da Prevent Senior. Delegados já ouviram, juntamente com promotores, o diretor da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior no do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil. O dirigente, que é médico, negou que a operadora de planos de saúde tenha cometido irregularidades no tratamento de pacientes com Covid.
A força-tarefa também apura se, mesmo após a ineficácia desses remédios contra a doença ter sido comprovada cientificamente ainda no ano passado, a empresa continuou a distribuir os kits a seus pacientes.
Desde o início dos trabalhos, já foram ouvidos seis parentes de pacientes que tiveram Covid e se trataram ou morreram nos hospitais da Prevent. Entre eles, houve quem relatou ter sido convencido a assinar o termo de consentimento de uso desses remédios depois de ter ouvido que “os medicamentos salvariam a vida” do paciente.
Segundo os promotores, ao menos um familiar de paciente da operadora de saúde disse ter recebido em 2021 o chamado kit Covid, com medicamentos ineficazes na prevenção e no combate à doença.
MP e Polícia Civil analisam ainda prontuários médicos dos pacientes que morreram, conversas, exames, receitas médicas, além de documentos repassados pela CPI da Covid e também pela Prevent Senior. Peritos médicos da própria Promotoria vão ajudar na análise técnica dos documentos.
A força-terafa do Ministério Público e o Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa investigam a Prevent Senior por suspeita de que seus diretores e médicos possam ter cometido:
A Polícia Civil tem dois inquéritos que investigam a Prevent Senior. Além do inquérito sobre a Prevent no DHPP, a operadora é investigada em outro procedimento no 77º Distrito Policial (DP), na Santa Cecília, no Centro da capital paulista.
É um inquérito que apura se a empresa cometeu crime de falsidade ideológica, mais especificamente, por não mencionar a Covid nas certidões de óbitos do médico pediatra Anthony Wong e da mãe do empresário Luciano Hang, Regina Hang. A pedido do MP, este inquérito será anexado à investigação em curso no DHPP.
A Prevent Senior também é investigada na espera cível pela Promotoria de Diretos Humanos e Saúde Pública do Ministério Público de São Paulo. O órgão pretende entrar com uma ação por danos coletivos na Justiça contra a empresa para pedir indenização aos pacientes da rede que morreram após usarem o ‘kit Covid’.
A Promotoria de Saúde planeja ainda sugerir aos diretores da Prevent Senior um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para que eles e seus médicos deixem de dar o “tratamento precoce” a seus pacientes.
A Prevent Senior é investigada ainda na esfera trabalhista pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). Entre as linhas de apuração está a suspeita de “assédio moral organizacional”, que se configura pela “prática sistemática e reiterada de variadas condutas abusivas e humilhantes”.
Os procedimentos foram instaurados após os relatos de pacientes, familiares e de médicos dados à imprensa e à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid do Senado, em Brasília.
Em São Paulo, a Câmara Municipal também abriu uma CPI para apurar as denúncias contra a operadora. Na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), a votação da abertura de uma CPI foi adiada.
Em outras ocasiões, a Prevent Senior sempre negou as suspeitas de irregularidades contra a empresa em seus hospitais, e informou que irá colaborar com as apurações.
Fonte: G1
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