MUDANÇAS –
Em um grupo pequeno de amigas da época da escola surge o sinal de alerta. Uma de nós mudou o cabelo e, insatisfeita com o resultado, bradou sua tristeza aos quatro ventos. Todas nós tentamos acalmá-la. Foi em vão. Ela não estava preparada para sua própria mudança. Acontece. Quem convive com o universo feminino certamente já vivenciou alguma crise destas. Então, o que as amigas podem fazer?
Fui para o baú de fotos antigas e saí à caça de registros onde meus cortes de cabelo não me favoreceram em nada. Queria mostrar a ela que tudo muda… As coisas passam… E, talvez, numa velocidade tão grande que nem percebemos.
Em meio às fotos espalhadas no sofá percebo algo engraçado. São inúmeros os momentos “não favoráveis esteticamente” espalhados por minha vida. A cada corte inusitado que eu encontrava registro, fotografava a imagem e postava no grupo. De repente, encontrei fotos horrorosas do início de nosso namoro, também de meus pais e, claro, meus irmãos. Vários grupos receberam enxurradas de fotos que não deveriam ter sido guardadas, mas ainda bem que foram! Algumas imagens foram para o Instagram, fazendo com que eu recebesse mensagens privadas do tipo: “Meu Deus, que bom que mudamos!”.
É verdade! Que bom que mudamos. Fisicamente, sem dúvida. Vi fotos minhas que… céus! Que roupas eram aquelas? E o cabelo? E a pose? Ri muito de mim. Sei que não ri sozinha e isso é simplesmente fantástico. Amadurecemos quando somos capazes de rir de nós mesmos…
Quanto às mudanças, como é importante mudarmos como pessoas. Sermos capazes de olhar para trás pensando:
– Tempo bom! Porém, hoje, sou melhor!
Assim, entre fotos e mais fotos, passei o fim-de-semana criando coragem para passar a tesoura no meu próprio cabelo. Cortei! Primeiro, discretamente. Depois, a tesoura subiu um pouco mais. A cada centímetro cortado, eu buscava as expressões dos filhos e marido.
– Nem parece que mudou!
– Cortou mesmo?
– Agora, percebo o corte.
– Tem uma região meio irregular no lado direito.
– Agora está joia!
Assim, o cabelo cultivado no período da pandemia foi embora, junto com as unhas grandes que não conferem com as normas de biossegurança de quem só agora retornou ao atendimento em consultório.
Cortei unhas e cabelo. Só não consegui cortar os carboidratos, pois comi um alfajor para comemorar a coragem de mudar o visual.
Calma, Bárbara, relaxa!
Não dá para fazer tudo de uma vez, né?
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, Professora universitária e Escritora