MUDANDO DE FASE –

Casamos aos 21 anos de idade, um mês após nossa formatura. Tínhamos apenas pinça clínica, explorador e espelho bucal (instrumentos odontológicos), amor imenso e a crença que, juntos, seríamos capazes de vencer o mundo. Isso foi o suficiente para nós. Era uma época onde os cerimoniais não eram essenciais e a gente não acreditava que para iniciar a vida a dois precisávamos ter casa, carro e sei lá mais o que. Acreditávamos que tudo isto viria com o tempo e seria construído a dois. Estávamos certos.

Com poucos meses de casados fomos para Bauru, São Paulo, para tentarmos o mestrado. Voltamos após quatro anos com nossos diplomas em mãos, ingressamos na docência e… engravidamos! Nosso primeiro filho nos mostrou como podemos ao mesmo tempo, por um filho para dormir e cantar com voz de criança todas as tarefas que tínhamos para o dia, como forma de manter um pouco do foco. Fralda trocada e aulas preparadas e ele foi crescendo e nós compreendemos que o nosso dia tinha uma versão incompreensível de 48 horas de duração, para fazermos tudo que precisávamos enquanto víamos o primeiro “qualquer coisa” de nosso João. Primeiro passo, golfada, palavra, dente… “Qualquer coisa” assim foi festejada com alegria. 

Depois chegou nosso Felipe e nos ensinou que amor de pai e mãe sempre aumenta e quando achamos que sabemos como criar um filho, Deus manda o segundo e mostra que é completamente diferente. Não sabemos nada!

Novas fases, novas etapas. Infância, adolescência, amadurecimento. Uma luta constante para que nossos cérebros percebam que eles não são perfeitos, estão crescendo, têm vontades e sonhos e, o mais difícil, nem sempre faremos parte disso.

Eu nasci filha! Ninguém me ensinou a ser mãe. Foram eles que tiveram esta tarefa e, convenhamos, eles acreditam – como todos os filhos -, que nós pais estamos prontos. Que absurdo! Nascemos nesta missão junto com eles, como podemos saber tudo? 

Então, a cada nova fase de vida deles, uma nova fase nossa como pais surge. Caramba! Que difícil isso.

Lembro-me tentando jogar Super Mario no Wii. Cresci jogando Atari: um bastão e um botão vermelho. Simples e prático. Agora, os controles de videogame daqui de casa têm setas em todas as direções, letras e figuras geométricas e devo apertar em alguns momentos, 2 ou 3 deles ao mesmo tempo. Não consigo. Fato!

Após eles (os filhos) repetirem pela milionésima vez quais os botões que devo apertar, escolhemos o “mundo” onde Mario e Luigi andarão. Morro algumas vezes e, mais lentamente do que imaginava, descubro onde crescer com aquele cogumelo mágico e ganho duas vidas extras que logo foram perdidas. Percebo a impaciência deles, mas, como um presente divino, passo de fase!

Entro naquele longo cano e saio do outro lado. Numa fase ainda mais difícil! Como a vida… 

No início do casamento as dificuldades em entender como duas vidas se tornam uma só sem perdermos nossas individualidades. Vem um filho, vem outro filho… Vem seus crescimentos.

Aprendemos que alegria e tristeza, saúde e doença, andam coladinhos. Quantas vezes não carregamos comprimidos de tamanhos e cores diferentes para a cama, para diminuir as dores causadas por cirurgias, cálculos renais, enxaquecas ou dores das hérnias de disco de nosso companheiro de vida? Quantas vezes não choramos após dar uma dura num filho e quantos sorrisos não demos ao ver o boletim, a aprovação na faculdade, a primeira música tocada no violão, a primeira conversa bilíngue? Eu e ele…

Estamos sempre mudando de fases. O Mario, o Luigi e nós! O tempo todo. Constantemente… 

Neste momento, passamos a fase da pandemia. Não tão rapidamente como queríamos, mas muito mais gratos do que imaginávamos. Não vejo a hora de passar pelo “cano” e dizer: esta fase foi finalizada! Que venha a próxima! Mais leve, por favor!

 

 

 

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, Professora universitária e Escritora

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