Não faltam qualificações a nenhum detentor de mandato para ser candidato a prefeito. Muito menos quando é o território do seu maior eleitorado. É o que basta para se reconhecer as credenciais do deputado Fernando Mineiro lançado candidato a prefeito de Natal pelo governador Robinson Faria e, agora, pela senadora Fátima Bezerra. O que se discute, nesta hora, são o tempo e o conjunto de circunstâncias que cercam seu partido diante de um quadro político conflagrado e muito movediço.
Não é fácil, no caso do PT com suas características marcantes e singulares, separar um nome do partido. Se, de um lado, o deputado Fernando Mineiro nada tem que lhe vexe o sono no seu passado de vida pública, não é bem esta realidade que se desenha para quem vai às ruas erguendo a bandeira petista. Se até a campanha do ano passado ser petista até contou, não se sabe até onde seria leve o fardo da estrela vermelha se ao longo dos próximos meses o partido cair na rejeição popular.
Duas verdades se posicionam de forma frontal numa excludência forte e direta: a rejeição que se revela a cada dia mais forte nas pesquisas e a fortaleza petista que se configurou em Natal quando das últimas urnas, em novembro do ano passado. A vitória pujante de Dilma naquela hora não teve o desgaste que teria hoje. O Petrolão apenas começava e parecia muito mais uma crise circunscrita aos limites da Petrobrás com gestões desastrosas, e não uma crise a envolver o PT e todo seu governo.
É tão verdade que o ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu, teria reconhecido que a crise exige uma defesa forte da presidente, sob pena das denúncias jogarem sobre o PT a última pá de cal. Só por uma visão nascida dos antolhos da paixão política leva a alguém desconhecer os sintomas coletivos de condenação da gestão petista ao longo dos últimos doze anos, hoje a fazer de Dilma Rousseff uma figura isolada, dentro e fora do PT, e de aliados, com o país hoje mergulhado num buraco econômico.
É o fim? Não. Só um desvario oposicionista seria capaz de admitir esse fim trágico e de forma tão precoce. Mas, o quadro tem contornos que aprofundam o desmantelo econômico numa sociedade que arrasta o pavor de uma inflação galopante e uma recessão impiedosa. Como é desvario despejar na falácia emocional do ódio dos ricos a incerteza que a essa altura pode ser o útero perverso e onde nascerá o medo coletivo, o monstro que dilacera a confiança coletiva e acende a desconfiança geral.
É muito cedo para se afirmar que o PT será uma legenda maldita nas eleições municipais do ano que vem. Como cedo é também apostar que será uma tarefa tão fácil quanto tem sido até agora, em que pese o PT, no campo de luta local, ser aliado de um governo que tenta cumprir com seus compromissos de campanha, mas ainda vivendo a precocidade de apenas três meses no comando dos destinos do Estado. A luta está distante um ano e meio. É muito tempo. E o tempo esconde surpresas.
Vicente Serejo – Escritor e Jornalista