Décadas atrás, entrando pelo século passado, Dr. Francisco Ramos, médico do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) em Nova-Cruz (RN), marcou época, com a sua eficiência e generosidade. Zelava pela saúde do povo, não fazendo distinção entre pacientes pobres ou ricos.
Atendia no Posto de saúde, como também na sua residência particular, onde morava com a família. Honrava o Juramento de Hipócrates, colocando a vida e a saúde da população acima do dinheiro.
Sua maior recompensa era a cura de um paciente. Rico ou pobre, a satisfação da cura era a mesma.
No atendimento em seu consultório particular, quando se tratava de uma paciente já adulta, o primeiro procedimento exigido pelo Dr. Francisco Ramos era um exame ginecológico, feito na hora, antes mesmo de ouvir as queixas da doente, que, frequentemente, se resumiam à garganta inflamada, gripe, dor de estômago ou enxaqueca. Essa sua prática gerava comentários maldosos a seu respeito.
Somente depois de muito tempo, a população se conscientizou de que esse exame ginecológico, exigido pelo Dr. Francisco Ramos naquela época, não passava de um exame preventivo contra câncer uterino, hoje tão comum e necessário. Esse médico foi, em Nova-Cruz, o precursor do exame preventivo contra o câncer de útero.
Muito bem humorado, para Dr. Francisco Ramos não havia tempo ruim. Muito religioso, acreditava em Deus e confiava sempre na ajuda divina.
Pois bem. Numa noite escura e chuvosa, Dr. Francisco Ramos recebeu um chamado do marido de uma paciente cardíaca, que estava em crise. Como na cidade não havia ambulância nem hospital, acompanhou o marido aflito até seu domicílio, para atender à paciente.
Ao chegar à residência do casal, Dr. Francisco Ramos percebeu logo a gravidade do caso e abriu sua maleta de médico, para ministrar à paciente a medicação de urgência. Ali permaneceu até alta madrugada, tirando a paciente da crise. Recomendou ao marido que providenciasse um transporte para transferir, com urgência, a paciente para Natal, para que ela recebesse tratamento especializado no Hospital das Clínicas.
Com abnegação e competência, Dr. Francisco Ramos se demorou na casa do casal, até que a medicação ministrada fizesse efeito, e a paciente saísse da crise. Depois, voltou para a sua residência, recomendando ao marido que duas horas depois, repetisse a mesma medicação.
Mal amanheceu o dia, o médico foi acordado por alguém batendo palmas à sua porta. Era o marido da paciente, que viera comunicar que a mesma tinha ido a óbito, alguns minutos atrás.
Surpreso e desapontado com a morte da paciente, Dr. Francisco Ramos procurou acalmar o viúvo, que estava inconsolável, mas só conseguiu dizer estas palavras:
– Escute bem, Seu Antônio: Dona Efigênia morreu, mas morreu muito melhorada!!! Aquele remédio que eu dei a ela ontem é o melhor do mundo!
O médico assinou o atestado de óbito da mulher e entregou ao viúvo. Na sua ignorância e na sua grande dor, o homem não conseguiu entender o sentido das palavras do médico. Não entendia como sua esposa havia morrido muito melhorada…Mas, se foi o médico que disse, devia ser verdade…
Essa história se espalhou e virou piada…. Pouco tempo depois, o médico voltou para Recife, sua terra natal.
Violante Pimentel – Escritora