MULHER CIDADÃ: A FORÇA ESTÁ COM ELAS –

São tantas as facetas e possibilidades para enaltecer a mulher que, confesso, me senti confusa: que poderia abordar para ser disseminado no Ponto de Vista on line? Remontar às antigas representações que destacam a doçura, a amorosidade, o companheirismo, a maternidade e a entrega no seio familiar, a beleza estética, o fetiche da mulher brasileira?  Ou situá-la no atual contexto da sociedade do Século XXl, inserida no mercado de trabalho, tendo conquistado 43% dos postos de trabalho em quase todas as áreas do conhecimento, embora com remuneração ainda menor que os homens? Ou tratar da posição feminina e do feminismo, com ênfase nas questões de desigualdade de gênero, violências, preconceitos, subtraindo seus direitos, suas livres escolhas e interferindo no seu destino? Ou ainda denunciar o que a torna vulnerável face à persistência do machismo e atropelo dos seus direitos como mulher e cidadã?

Olhando para a condição da mulher, em 43 anos desde a institucionalização do Dia Internacional da Mulher pela ONU, é possível reconhecer avanços, conquistas e mais oportunidades que outrora. No entanto persiste, lamentavelmente, uma precária leitura acerca do seu enfrentamento diário, na busca de espaços na atual sociedade do conhecimento tão impositiva de novas maneiras de ser, estar e conhecer.

Arrisco afirmar que convivemos com vários cenários que situam a mulher: ora compondo uma representação social subliminar emocional, quiçá poética, principalmente no terreno do sentimento, do coração que se abre e pulsa pelas pessoas que a cercam; ora buscando enfrentar as desigualdades remanescentes e conquistar oportunidades nas dimensões já enunciadas. Qual o custo para a mulher conciliar diferentes papeis nos planos afetivo, familiar e profissional? Onde colocar foco nesse universo multifacetado, com crises e redefinição de valores, num mundo em constante transformação que impõe imensuráveis desafios para a mulher: ser mãe, trabalhadora, esposa, provedora, ponto de equilíbrio familiar, dentre outras responsabilidades inerentes às várias jornadas de trabalho?

Fui buscar, junto a um grupo de amigas professoras, juristas, políticas, donas de casa, profissionais, o que elas teriam a falar, rapidamente, sobre o 8 de março? Surgiram opiniões variadas, queixas, recomendações. Enalteceram o perfil das mulheres como um ser ambivalente com capacidade de amar/odiar; dócil/amarga, bela/feia, meio tigresa/meio fada, nem vilã/nem anjo, mas pronta para enfrentar as intempéries e desafios da vida. Exaltaram a imagem de mulher guerreira, que deve ter atitude, saber impor respeito, enfrentar e superar dificuldades, resiliente, conciliadora, uma pessoa que pensa, chora e encanta, com capacidade de executar tarefas variadas ao mesmo tempo, tão sensível a ponto de cuidar do sono do filho ou filha, alimentá-lo/a e lutar por ele/a em meio a complexos e árduos cenários. Recomendam, organização, engajamento e estudos para se lograr maior qualificação desse coletivo que representa 50% da população mundial.

Considero plausível a inserção e mobilização das mulheres nos movimentos sociais e intelectuais em curso, principalmente para compreenderem a amplitude das responsabilidades que lhes tocam e, na sequência, incluírem-se, em pé de igualdade, na sociedade, na política, nos postos de comando das instituições em geral.

Nessa consulta, destaco uma fala que completa o cenário em discussão: “nós mulheres que trabalhamos duplamente, triplamente desde sempre, desejamos o direito básico do ser humano: poder ir e vir sem risco de estupro, agressões, desrespeitos, violências e até a morte”. E acrescento: desejamos ser reconhecidas em nosso potencial e nossa luta cotidiana de cuidado com a casa, os familiares e o mundo. Sobretudo, desejamos e trabalhamos em prol de um mundo mais amoroso e feliz.

Concluo sugerindo que revisitem a música do Erasmo Carlos: Mulher, Sexo Frágil, de 1981, que tão bem enaltece o valor das mulheres. “Dizem que a mulher é o sexo frágil. Mas que mentira absurda. Eu que que faço parte da rotina de uma delas. Sei que a força está com elas”.

 

Betania Leite RamalhoProfessora Titular do Centro de Educação da UFRN, Grupo de pesquisa Formação e Profissionalização Docente

 

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *