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Mulher diz que teve exame falso positivo para HIV feito pelo PCS no parto, e que bebê tomou antirretroviral por 28 dias

Tatiane Andrade foi à polícia nesta segunda-feira registrar o caso — Foto: Dayane Zimmerman/g1

A dona de casa Tatiane Andrade, moradora de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, denunciou ao g1 e à polícia que um erro em um exame de HIV fez com que sua bebê recém-nascida recebesse tratamento para pessoas com a síndrome por 28 dias.

O laboratório que fez o exame é o PCS Lab Saleme, onde outros erros levaram à infecção por HIV de ao menos seis pacientes que passaram por transplantes no Rio – nesta segunda-feira (14), duas pessoas foram presas e outras duas são procuradas.

Gabrielle, hoje com 1 ano de vida, precisou tomar antirretroviral logo após nascer prematura, de 7 meses. Além disso, não pôde amamentar para evitar a infecção pelo HIV – que na verdade não existia.

A mãe dela, Tatiane, de 30 anos, foi medicada para secar o leite e nunca amamentou a filha. Além disso, sofreu com transtorno de estresse pós-traumático por achar que também tinha contraído o vírus.

O parto foi na maternidade particular NeoMater, em setembro de 2023. No dia do nascimento da filha, Tatiane fez um teste de HIV na maternidade, que contrata o PCS para os exames – ambas as unidades ficam em Nova Iguaçu. O resultado deu positivo.

“Quando o resultado saiu, no dia 19 de setembro de 2023, foi o médico e a psicóloga do hospital para me darem a notícia. Naquele momento, meu mundo acabou. Eu, que já estava debilitada, pois tinha acabado de ter uma filha e ainda mais prematura, pedia para Deus que a minha bebê não tivesse nada”, contou Tatiane.

 

O laudo de HIV positivo foi assinado por Walter Vieira – um dos sócios do PCS e preso na Operação Verum por assinar um laudo com falso negativo de um doador de órgão infectado pelo HIV. Vieira é tio do deputado federal Doutor Luizinho (PP), que foi secretário de Saúde do RJ no ano passado.

Tatiane aguardava documentos para processar a maternidade e o laboratório. Após ver as notícias sobre os transplantados infectados pelo HIV, decidiu levar seu caso à polícia. O registro foi feito na tarde desta segunda na 56ª DP (Comendador Soares).

Tatiane conta que, ao testar positivo na maternidade, foi iniciado um protocolo especial para quando se descobre que a mãe tem HIV no momento do parto.

“Colheram meu sangue e minha filha nasceu. Porém, algumas horas depois, um médico foi e me disse que o teste deu positivo pra HIV e que minha filha, com minutos de vida, começaria a tomar o coquetel”, conta.

“Eu só me desculpava para o meu esposo falando que eu não fiz nada e pedia desculpa pra ele se caso o tivesse contaminado.”

 

Quase um mês de agonia

Após receber a notícia, Tatiane fez então um teste mais aprofundado na própria maternidade, a fim de confirmar o diagnóstico de que teria HIV. Entretanto, a dona de casa afirma que não recebeu o resultado desse teste e que, por isso, decidiu buscar um outro laboratório.

Tatiane disse que ela passou por 26 dias tensos até conseguir esclarecer que, na verdade, nem ela ou o marido estavam infectados com a doença. A angústia só acabou após um teste feito em outro local, em 10 de outubro, e o resultado de ambos deu negativo.

A partir dessa notícia, Tatiane diz que ficou buscando o tal resultado nunca entregue pelo hospital. Ela afirma que, quando a foi até a maternidade, alegavam que o resultado era responsabilidade do laboratório, e o laboratório dizia ser do hospital.

“Fui na sede de Nova Iguaçu e me disseram que não era meu direito pegar o resultado. Só depois que ameacei processar e chamar a imprensa que emitiram meu resultado, em janeiro desse ano”, explicou.

O que dizem os citados

g1 entrou em contato com os citados.

A direção da NeoMater afirma que “em razão do sigilo” não pode comentar e que “a paciente em questão recebeu todos os esclarecimentos devidos durante a permanência na unidade”. “Mesmo após a alta mantemos à disposição todos os resultados dos exames realizados e acesso ao prontuário, exatamente por ser direito do paciente”, diz a nota.

Em nota, o PCS Lab Saleme “informa que o resultado do terceiro teste da gestante estava disponível desde o dia 29/09/23, mesma data em que foi acessado pela maternidade”.

“Entre 12/10/23 e 14/01/24, o resultado do exame foi impresso 12 vezes pela equipe da maternidade, conforme registro em sistema. O PCS Lab esclarece, ainda, que é responsabilidade dos hospitais informar os resultados de exames de pacientes atendidos ou internados nessas unidades”.

O laboratório não comentou o erro no exame.

A defesa de Walter Vieira afirmou que não tinha conhecimento do caso e que vai apurar.

Protocolo

De acordo com especialistas ouvidos pelo g1, é protocolo médico iniciar o tratamento para a sorologia de HIV assim que é detectada a presença do vírus em um teste rápido.

“Isso reduz muito substancialmente a transmissão vertical [de mãe para filho]”, explica a ginecologista Cecília Pereira.

Porém, é necessária a realização de um teste mais aprofundado para confirmar a infecção pelo vírus.

“Se a paciente era negativo antes e ‘positivou’ e se tem urgência do nascimento, é inviabilizado o parto e indicada cesariana, além de ser proibida amamentação. Ou seja, não dá tempo de fazer um teste mais rebuscado e carga viral”, explica a médica ginecologista e obstetra Priscila Amorim.

Trauma

Tatiane lembra do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e diz que até hoje luta para superar o que aconteceu.

“Por razões de plano de saúde, eu faço terapia na mesma rua da sede do PCS Laboratórios, e passar por lá me entristece e me faz reviver tudo que eu vivi”, diz.

Fonte: G1
Ponto de Vista

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