MURILIANAS –
Nenhum potiguar e raríssimos brasileiros viveram a aventura e tiveram a ventura de Murilo Melo Filho. Ele justificou o seu êxito como sendo generosidade divina e, também, em decorrência do seu amor ao jornal, à revista, à TV. No exercício profissional, entrevistou ou foi recebido pelos maiores protagonistas do século XX. Personalidades como Eisenhower, John Kennedy, de Gaulle, Indira Gandhi, Che Guevara e Fidel Castro, Ho Chi Minh, Golda Meir, Evita e Peron. Teve também a felicidade de contactar com cientistas do porte de Albert Sabin.
Acompanhou seis presidentes da República do Brasil em viagem ao exterior. Personalidades tão diferentes quanto Jânio Quadros ou Geisel.
O jornalismo a que se dedicou desde os doze anos de idade, ele não hesitou em correr risco nem temeu ameaças. Foi correspondente nas guerras do Camboja e do Vietnam. Quando da fundação de Brasília, ele viajava em um velho avião, semanalmente, do Rio de Janeiro para a, hoje, Capital Federal, voltando às sextas-feiras. Um dia, antecipou o voo. A aeronave em que viria mergulhou nas águas da Baia da Guanabara e morreram todos os passageiros. Sem fazer juízos pessoais, ao registrar fatos jornalísticos, foi ameaçado de morte. Permaneceu íntegro.
Amante da família, dos amigos, do nosso Estado, foi durante décadas o nosso Embaixador Cultural no Rio de Janeiro.
A sua posse em nossa Academia de Letras fez lotar o Teatro Alberto Maranhão. Agradecendo a bela noite, vaticinei: Agora vá, Murilo, vá colher os frutos da semente que você plantou. Seja a nossa presença na Academia Brasileira de Letras. Assim foi.
Na ABL, valorizou, sempre, a importância de dois antecessores potiguares: Rodolfo Garcia e Peregrino Junior. Ressaltava no primeiro, a erudição e a brasilidade. Concorreu para que fosse dado o seu nome à nova Biblioteca. O visitante encontra três grandes painéis com a imagem do homenageado.
Histórias bem humoradas contava sobre Peregrino Junior. Quando ele residia no Pará, teve um acidente noticiado nos jornais, uma queda de cavalo. Um amigo espantou-se dizendo que nem sabia que ele andava a cavalo. Nem ando, respondeu, mas queda de rede não tem charme, elegância. O repórter ainda lhe perguntou se a sua permanência em Belém seria definitiva. O nosso escritor reponde: “O meu destino é ser peregrino.”
Murilo foi o único diretor não-judeu do Grupo Manchete. Adolfo Bloch comprou-lhe a mais avançada lancha para que ele pudesse fazer relações públicas em passeio de autoridades no Lago Paranoá. Tempo depois, Murilo, sempre econômico, diz ao seu amigo e chefe que está fazendo boas relações a pé, a lancha é muito dispendiosa. Adolfo não aceitou: “Por falta de relações públicas, Murilo, o judaísmo perdeu Jesus Cristo. Você acha que isto é homem que se possa perder?”
Católico, Murilo fez promessa de fazer uma capelinha em nossa cidade. Fui com Ronaldo Cunha Lima à inauguração de uma belíssima igreja que ele construiu na Zona Norte. Emocionou-se quando Ronaldo lhe entregou “A Missa em Versos”, disse que poesia e fé são inseparáveis. A nossa amizade foi e é definitiva.
Murilo veraneava em Cotovelo. Um dia, recebeu-nos e pediu à sua família que me tratasse como um irmão, porque eu era um irmão dele.
O jornalismo, as Instituições Culturais e este seu irmão procuram fazer de Murilo Melo Filho o seu exemplo.
Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN
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