Quando descobriu o tamanho da criatura que havia ganhado vida própria por suas mãos, Renato Russo foi ao microfone e proclamou ao mar de fiéis à sua frente: “A gente está aqui no palco, mas a verdadeira Legião Urbana são vocês”. A verdadeira Legião Urbana, ainda mais numerosa do que na década de 80, não deve estar feliz com os últimos acontecimentos que envolvem a longa batalha por direitos autorais entre o filho e único herdeiro de Renato, Giuliano Manfredini, e os dois legionários remanescentes, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá.
Além da turnê que começa nesta sexta-feira, 23, em Santos e segue por várias cidades do País (passa por São Paulo, no dia 7 de novembro, no Espaço das Américas), Dado e Bonfá já tinham em mãos um segundo projeto fonográfico pronto e acabado. Um box que traria dois discos, um livreto e potencial para provocar êxtase nos fãs: uma remasterização do primeiro álbum da Legião que completa 30 anos, com Será, Geração Coca-Cola e Soldados, e um segundo disco com sobras de estúdio e versões de músicas como algumas que a Legião tocou para mostrar à gravadora EMI quando chegou de Brasília ao Rio.
Com o box pronto, então, Dado e Bonfá receberam o comunicado de que 1977 pertencia não a eles, mas a Renato Russo e a seu filho, Giuliano Manfredini. Imediatamente, publicaram também um documento que provava o contrário. Carimbado pelo Departamento de Censura de Diversões Públicas da Polícia Federal, a letra da música em papel timbrado da EMI comprova as assinaturas da autoria de 1977: “Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá”. Mesmo com a comprovação, foram informados de que a música havia sido registrada em 2003 no Ecad por Giuliano e, assim, desistiram de lançar o box.
Na noite de terça-feira, 20, Giuliano divulgou um comunicado em nome da Legião Urbana Produções Artísticas, sua empresa: “A decisão (sobre o cancelamento do lançamento do disco) foi tomada unilateralmente pelos demais integrantes da banda”.