A blindagem a Michel Temer na Câmara dos Deputados contra a denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, não está tão firme quanto o presidente gostaria. Ainda que integrantes da base aliada reafirmem o apoio ao peemedebista, não garantem que vão mantê-lo em caso de fatos novos contra ele. Temer conta hoje com pelo menos 290 votos na Casa, o que seria suficiente para barrar a acusação formulada pela PGR. Há a expectativa de que Janot encaminhe a primeira denúncia para o STF na próxima terça-feira. O relator do inquérito que investiga Michel Temer no Supremo, o ministro Edson Fachin, enviou na quinta-feira à PGR uma cópia do processo. Com isso, Janot tem cinco dias para formalizar a acusação.
A estratégia do procurador-geral é fatiar em três ou quatro partes a denúncia, como uma forma de desgastar o governo e a base aliada na Câmara. Com isso, Temer teria de mobilizar diversas vezes sua tropa de choque para derrubar todos os processos. Além disso, o Planalto terá de lidar com outros possíveis abalos, como a conclusão da perícia dos áudios de conversas gravadas pelo empresário Joesley Batista, que a PF deve enviar na segunda-feira para Fachin, além de delações premiadas do doleiro Lúcio Funaro e do ex-assessor Rodrigo Rocha Loures.
Na semana passada o deputado Carlos Marun (PMDB-MS), foi categórico ao afirmar que “não há a menor dúvida” de que a acusação baseada na delação de Joesley seria barrada na Câmara. Mas o presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC) — primeira etapa de votação da denúncia na Casa —, o deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), jogou água fria nas apostas do governista. Ele disse esta semana que não pretende escolher como relator um nome da preferência de Temer e dos governistas, como o deputado Jones Martins (PMDB-RS), hoje suplente na CCJ. Pacheco afirmou que o perfil do relator é de alguém “técnico, com conhecimento jurídico e com relativa independência para levar adiante essa missão com a mais absoluta isenção”.
Líderes dos partidos da base governista também não foram tão firmes quanto ao apoio a Temer na votação. Alguns dizem que tudo vai depender do teor do que for apresentado por Janot. Eles entendem que a permanência do presidente pode garantir estabilidade para o país no sentido da aprovação de reformas e da retomada do crescimento econômico, mas, se a denúncia for muito pesada, com fatos novos, a governabilidade dele diminui. O inconsistente apoio do PSDB também vai pesar muito, pois não há completa garantia de fidelidade ao peemedebista. O grau da denúncia é o que vai determinar a tendência do partido. E cada parlamentar deverá votar de acordo com a própria consciência.