NA CIDADE DAS ARTES –

A comunidade artística tem vez, voto e valor em Gmund, na Áustria. É uma linda cidade medieval (séc. XIII), com seu castelo, belas fachadas e uma igrejinha gótica. A referência mais próxima é Salzburg imortalizada por Mozart. Os habitantes sentem orgulho de morar na Cidade das Artes, os artistas.

A cidadezinha ficou mais conhecida porque lá foi criado o primeiro Porsche, o de número 356. Um pequeno museu testemunha o início dos carros esportivos, aerodinâmicos, leves porque então feitos de alumínio. Depois é que a fábrica foi definitivamente construída em Stuttgart.

Os artistas dão alma ao lugar, com festivais, representações, música, cores e formas. Para que se tenha uma ideia da importância conferida pela administração pública, basta dizer que do secretariado municipal, o secretário de Cultura é uma espécie de primeiro ministro, prevalente.

Foi estabelecida uma casa abrigo para o domínio da arte. Os convidados passam três meses compondo suas obras e, no final, apresentam em exposição para venda. O artista plástico potiguar Ojuara, usufruiu e notou-se que sua exposição foi a mais concorrida de todas.

Convidado, participei do recente festival que abordou o tema das relações Brasil e Áustria. Os organizadores foram Verônica Schell, natalense, e o seu marido, o admirável escultor Heinhard. A solenidade de abertura teve a palavra do embaixador do Brasil na Áustria, José Antônio Marcondes de Carvalho, e do prefeito. Falei sobre as relações antigas e privilegiadas entre Brasil e Áustria. Ressaltei a visão do antropólogo brasileiro Câmara Cascudo, com sua percepção definitiva: “O Brasil não tem problemas, apenas soluções adiadas”. E ainda: “O melhor produto do Brasil ainda é o brasileiro”. Após a tradução simultânea para o alemão, os aplausos soaram ao nosso Mestre.

Na palestra, discorri sobre o meu “Livro das Respostas” baseado no “Libro de las Preguntas”, de Pablo Neruda. Bastante comentados foram dois pequenos trechos do diálogo onírico. Neruda: “Quantas perguntas tem um gato?” Respondi: Sete. Porque toda vida é uma pergunta. Neruda: “De que se ri a melancia quando a estão assassinando?” A resposta: Com humor negro, a boca vermelha da melancia constata: o seu sorriso foi feito a golpe de faca.

Entre os filmes exibidos, “O Baobá e seu Poeta” com roteiro talentosíssimo de Woldney Ribeiro, um curta de 15 minutos filmados por Walton Schiavon. Tem fundo musical de Oriano de Almeida e um poema tupi-guarani, por mim musicado, arranjo de Artur Porpino. O baobá transforma-se em mulher que sai de dentro do seu tronco. A interpretação da atriz mossoroense Tony Silva é simplesmente genial. O filme, legendado para alemão, vai ser exibido em escolas regionais. Uma grande atriz, Daniela dos Santos, decidiu fazer a dublagem para melhor compreensão das crianças. Ela imagina que possa ser exibido também na Alemanha.

O salão de conferência do Castelo estava lotado de austríacos e brasileiros. Uma surpresa feliz. Alba, antiga e querida auxiliar do meu Escritório, estava presente com o marido Pietro, italiano, prestigiado músico da Orquestra Sinfônica e as lindas meninas Alícia e Clarissa. Alícia, cerca de 7 anos, fala fluentemente 4 línguas.
Foram tantas alegrias que não caberiam em mim, nem num artigo deste jornal.

 

Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN

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