NA COZINHA “SAL A GOSTO” –
Fui criado com a máxima “cozinha não é lugar para homem”. Claro que isso ‘vagueia’ os anos sessenta.
Hoje a coisa é diferente: “Vai pra onde? Pode vir terminar de lavar a louça” ou ainda “que vai preparar hoje, queridinho?”.
Os costumes foram tomando forma de “concessão” à medida que a mulher foi migrando de ‘dona de casa’ para o mercado de trabalho.
Pois bem.
Já agora, no após segundo milênio, resolvi me aventurar na cozinha caseira de forma experimental e, comecei a ler tudo que era receita.
Entre tantos temperos, cismei que estava pronto para dar “desgosto” à minha mãe e resolvi ir para o fogão, debutar, com uma moqueca de peixe e camarão.
Hum… Tá sentindo o cheiro!?
Pela receita parecia “facinho facinho” e fui, meticulosamente, juntando todos os ingredientes. Já estava me sentindo o maior “cuisiner” do mundo e, para apresentar o “meu” prato, convoquei esposa e filhos para saborearem o resultado da minha inspiração: moqueca ao molho do chef, no caso, eu.
Sendo um prato típico, não tinha como dar errado. Mas, deu! (Você já estava esperando, não era!).
A receita citava “sal a gosto” e… Já viu…
Não especificava que cozinhando demais, o camarão ficava ‘borrachento’ e, o peixe além do ponto, ficava ‘seco’ e sem sabor.
Família reunida. Moqueca servida!
Logo surgiram os primeiros “elogios”: “tá salgado”, “o camarão tá duro”, “o peixe tá massento”.
Não me dei por vencido. Augusto Cury diz: “não desista de seus sonhos”.
No outro domingo, logo que o galo cantou, anunciei: hoje teremos “Peixe ao forno”. E tome posta e tome verdura e tome leite de coco e tome azeite de dendê e tome pimenta do reino – e quando chegou no “peste” do sal: sal a gosto. De novo, meu Deus! E tome sal (e do bom, MARFIM, da REFIMOSAL dos amigos Aldemir e Socorro).
O resultado você já sabe, “né”.
Papai, volte para suas “Avaliações e Perícias”, deixe que mamãe sabe fazer.
Se eu desisti? Nada disso. Resolvi perguntar: Ou Cléa, que danado é sal a gosto?
Agora sim. Estava capacitado para seguir em frente e finalmente me realizar como o “gran chef”, de Macaíba pra cá.
O sol raiou, fui rezar e aproveitei para pedir que os anjos e santos me dessem o discernimento e a maestria para o tilintar dos talheres e as “palmas” pelo novo prato que a família iria comer e lamber os beiços. Hoje, seria a minha redenção.
Quando comecei a juntar as verduras, os temperos, amolar a faca…
Sim, E ai?
Os meninos começaram a telefonar para a avó, implorando: “Vovó Carmita, hoje vamos almoçar com a senhora”. Trocaram de roupa e se mandaram.
Acabou minha “carreira”? Ainda não!
Fui treinando… Treinando… Observando… Pedindo, sempre, moqueca nos restaurantes e…
Um dia, minhas preces foram atendidas: preparei uma moqueca e mudei de cobaias – amigos.
Amigos não iam ser tão sinceros assim. Mas, foram!
Tá pensando que deu errado, “né” bichinho?
Dessa vez foi um Sucesso! (com letra maiúscula).
Hoje meus filhos, sobrinhos e amigos perguntam: “Quando vai fazer uma moqueca daquelas?”.
Agora só no MasterChef ou numa ocasião especial. A fama tem seu preço.
(Lembrei-me de que estou devendo uma moqueca para os amigos Rodrigo e Aline. Também, eles não trazem o peixe!).
Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras (josuacosta@uol.com.br)
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