Bolsonaro e seu então ajudante de ordens Mauro Cid em 2019 — Foto: Adriano Machado/Reuters
Bolsonaro e seu então ajudante de ordens Mauro Cid em 2019 — Foto: Adriano Machado/Reuters

Em meio ao avanço das investigações, militares tentam blindar e minimizar participação de colegas na confecção do roteiro do golpe e se dizem preocupados com as conclusões às quais a Polícia Federal chegou em relação aos fardados na operação Tempus Veritatis, que apura uma tentativa de golpe pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados.

Segundo oficiais ouvidos pelo blog, haveria “excessivo poder” de influência atribuído a militares de baixa patente e sem contingente para mobilizar. É o caso, por exemplo, do general Estevam Theophilo, comandante do Comando de Operações Especiais Terrestres (Coter), que teria sinalizado adesão aos planos de Bolsonaro.

De acordo com o Exército, o Coter fica em Brasília (DF) e não tem nenhuma tropa subordinada a ele e fica vinculado ao Comando Militar do Planalto, ou seja, não poderia tomar qualquer atitude sem a anuência do comandante do Exército. Oficiais ouvidos pelo blog destacam ainda se tratar de um grupo de planejamento, sem capacidade de atuação, embora o general integrasse o Alto Comando da Força.

Outra crítica feita é em relação ao papel atribuído aos militares que trocaram mensagens com o ex-ajudante de ordens Mauro Cid. É o caso do coronel Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros, o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, o coronel Bernardo Romão Correa Neto e outros. A alegação é de que se trata de militares de baixa patente e cujos raios de influência não ultrapassariam seus círculos de amizades pessoais. Eles aparecem perguntando Cid se já haviam encontrado indícios de fraudes nas urnas e municiando o núcleo golpista com informações falsas.

A estratégia é tratar esses militares como espécie de coadjuvantes do roteiro do golpe – o que a PF rechaça, baseada nas investigações, além de repetir que militares que comparecer a encontros com Bolsonaro atenderam a chamados do chefe do Executivo. Problema- eram chamados para discutir atos ilegais- o que, obviamente, não está previsto na Constituição.

Forças Especiais ou ‘chão de fábrica’?

Há ainda a avaliação de que o papel atribuído às Forças Especiais é exagerado. Embora tenham o nome de “Especiais”, são consideradas de “chão de fábrica”, ou seja, função para militares ainda em início de carreira e sem papel de comando.

Outros militares tidos como figuras centrais, como o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno e o ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto, já estão na reserva e tampouco teriam poder para mobilizar tropas da ativa.

Desde a eclosão do 8 de janeiro, tanto o ministro da Defesa, José Múcio, quanto o comandante Tomás Paiva vêm destacando a necessidade de se avançar nas investigações para individualizar as condutas e não deixar os episódios contaminarem as instituições.

Na percepção do Alto Comando, a individualização vem deixando claro como o grupo golpista estava limitado a poucos indivíduos nas Forças Armadas e não se espalhou pelo Exército. A forma como os fatos estão descritos pela PF, no entanto, levam a crer que os militares envolvidos faziam parte de uma elite capaz de subverter o regime democrático, o que, na avaliação desses oficiais, não corresponde com a realidade.

Fonte: G1

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