NADA COMO FOI SERÁ –

Plagiando a música de Lulu Santos, nada do que foi será do jeito que foi antes da pandemia da Covid-19. O isolamento social em decorrência do receio de contaminação pelo vírus mortal alterou hábitos e procedimentos dos brasileiros, com tamanha intensidade, ao ponto de não nos reconhecermos quando o temor passar. Ou seja, comprovamos, na íntegra e na carne, a máxima chula que afiança: quem tem anus tem medo! – aqui amenizada pela vulgaridade da sentença original.

Em confinamento aprendi como utilizar a parafernália eletrônica em meu benefício e do meu próprio bem-estar. Tornaram-se, para mim, corriqueiras e agradáveis todas as movimentações bancárias pelo telefone celular, sendo difícil eu voltar a entrar em filas de bancos, mesmo para sacar dinheiro, o que faço agora em caixas eletrônicos pouco movimentados – o segredo é estabelecer horários adequados.

Alcancei a glória de obter a carteira de habilitação e o documento do carro pelo celular, ambos agora arquivados e disponíveis a um clicar de teclas. Nada, porém, se compara ao estouro comercial das entregas em domicílio por conta da triste realidade mundial e da explosão de compras via internet.

O comércio eletrônico nunca foi o forte da América Latina, mas a limitação da liberdade decorrente do novo coronavírus fez com que a nova modalidade de compras se incorporasse de vez ao cotidiano do continente, notadamente do Brasil, provocando novos desafios socioeconômicos.

Agora se adquire do alfinete ao automóvel pela internet influenciando mesmo quem não gosta da ideia de comprar sem antes ver ou tocar na mercadoria. Se idas a cinemas e restaurantes diminuíram, ampliaram-se os serviços online desde as compras de alimentos, medicamentos, mão-de-obra especializada ou não, até produtos para animais e um sem número de outras atividades.

Concordando ou não a pandemia modificou ou aguçou hábitos de consumo e tendências que chegaram para ficar. Dentre eles, o desejo compulsivo, intenso e permanente de fazer compras, a tal oniomania – doença estimulada pelo isolamento social e ampliada pela falta de sono e cansaço, inimigos do autocontrole.

No novo normal pode-se quase tudo pela internet – quase tudo porque ainda não descobriram a procriação virtual. Se antes reclamávamos por não ter tempo para nada, agora, com tempo para tudo, temos que aprender e nos reciclar para não ficarmos sem nada fazer.

No século passado três pandemias de gripe sacudiram o planeta: a espanhola (1918 – 1920), onde morreram 40 milhões de pessoas; a asiática (1957-1958), que ceifou 2 milhões de vidas; e, a terceira apelidada de Hong Kong (1968 -1970), responsável pela morte de um milhão de habitantes, das quais mais de 100 mil só nos Estados Unidos. Isso, apenas cinco cinquenta atrás.

Com 5 milhões de casos confirmados e um saldo de 330 mil mortes espalhadas pelo mundo, em quatro meses, o novo coronavírus tem condições, sim, de superar a marca deixada pela última pandemia da qual nem sequer nos lembrávamos.

O cantor Roberto Carlos, em razão da acentuada mania de limpeza, não deve ter estranhado a mudança de rotina para evitar a contaminação pela Covid-19, porque os protocolos estabelecidos para tanto são corriqueiros no cotidiano do artista há anos. Para ele o “novo normal” revela-se um tranquilo “velho normal”.

Pois é, são tantas e pavorosas emoções, bicho!

 

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro e Escritor

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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