Tudo na vida tem limites! É uma lição básica que, ainda na infância, nossos pais nos ensinavam. A indignação tem limites; o direito de manifestação também! O exercício de um direito esbarra quando prejudicamos o outro. É assim ou não?

Os caminhoneiros iniciaram um movimento paredista com reivindicações próprias da categoria. Movimento legítimo, mas passou do ponto razoável. O segmento é importante e estratégico, tanto é que conseguiu parar o País, mas, a bem da razoabilidade, não precisava “esticar tanto a corda”, como diz o adágio popular.

O movimento paredista gerou incomensuráveis prejuízos. Os estragos na economia são reais, assim como, a infiltração de outros interesses nas manifestações, algumas das quais reclamando o fim da democracia, algo que deveria ser firmemente desestimulado pela sociedade brasileira. Ademais, a intolerância de alguns submeteu vidas humanas ao risco de morte, fato reprovável que deveria ser, infelizmente, repelido com maior veemência.

Para piorar o contexto é devido registrar que não é fácil, de um dia para outro, resolvermos a política de preços de um produto que depende também do mercado internacional. Também não é fácil enfrentarmos as consequências de uma aposta única de logística no transporte rodoviário. Ademais, há um componente ideológico sempre presente no debate acerca do petróleo e da empresa Petrobrás quando, com o devido respeito, a discussão deveria ser criteriosamente técnica.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI), com lucidez, emitiu nota que foi subscrita pelas Federações, inclusive, pela FIERN. Em resumo, além de noticiar os prejuízos e estragos, fez um alerta: “não é hora para movimentos oportunistas. Novas paralisações, neste momento, são inaceitáveis. Cada um precisa assumir a sua parte de responsabilidade para superar essa situação. A prioridade deve ser o reabastecimento imediato e aceleração da discussão sobre os problemas estruturais do país, tais como revisão do papel da Petrobras, revisão tributária, reavaliação da matriz de transporte e investimento em infraestrutura”. E acrescentou: “milhões de brasileiros não conseguem trabalhar. Já temos 13,7 milhões de desempregados e esse número deve piorar. A retomada do crescimento econômico, que já vinha lenta, pode demorar muito mais”.

O movimento paredista precisa ter consciência dos efeitos que causou. A sociedade, por sua vez, assegurado o direito às diferenças, precisa reconhecer que, bloqueando a prerrogativa de ir e vir e apoiando o desabastecimento de combustíveis e alimentos, não resolverá os problemas que nos causam indignação. Tudo tem causas e efeitos. Enfrentar os problemas é devido, mas a forma deve ser sempre avaliada. E, principalmente, precisamos diferenciar a legitimidade e verdade das informações. Não é fácil, mas é necessário!

Enfim, o apelo da prudência e do interesse coletivo é pelo fim das paralisações e a favor do reabastecimento e da normalidade das operações de transporte e logística. As teses e debates devem continuar, mas com diálogo e razoabilidade. Pelo diálogo e pela democracia podemos melhorar o Brasil!

Publicado na Tribuna do Norte (03.06.2018).

 

Amaro Sales de Araújo – Presidente da FIERN e do COMPEM/CNI.

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