Carlos Alberto Josuá Costa      

Fui consumindo, gradativamente, os vinhos da pequena adega caseira sem me preocupar com a reposição. Afinal, para compartilhar a degustação de um vinho com esse “vírus” Amigokungunya, é penoso e de uma “dificulidade” tão grande, que faz pena aos acometidos de saudades “carenciosas”.

Lembro-me bem, que quando convidávamos alguém para “comer um feijãozinho” ou para tomar um “suco de camboim bem geladinho”, o sujeito-amigo batia quase que imediatamente à porta: Cheguei!

Agora, depois que os amigos foram se distribuindo nas redes sociais, a coisa complicou. Todos eles têm uma frase preparada: “Homi, vamos tomar um vinho”; “Menino, nunca mais agente se reuniu”; “Ei, quanto tempo!”; “Vou movimentar o grupo para o dia tal”; “Infelizmente não vou poder ir” e, assim por diante. Mas, não passa disso.  Reunir-se, sentir a presença, sorrir, chorar, abraçar – nadica de nada.

Tenho até anotado na minha agenda a quantidade de dias sem nos encontrar. Parece aquela placa nos canteiros de obras: [154 Dias Sem Acidentes].

Cito como exemplo o grupo “Tropa”, cuja confraternização natalina ainda está pendente. Mas a esperança é tão grande que estou enviando ao Papa Francisco, um relato de como conseguimos, mesmo assim, nos querer bem tal quais aqueles cursos à distância. Nas últimas fotos aparecemos com os filhos pequenos nos braços. Agora estão nas faculdades, nos estágios profissionais e, nós com a cara mais lambida, só sabemos dizer: “vamos marcar um encontro”.

Tá pensando que é fácil regar as amizades!

Quando tem o aguador, falta a água; quando tem ambos, falta a quem; quando falta… Tem; quando tem… Falta. E assim vai. Êpa, vamos atualizar: [155 Dias Sem Acidentes].

Por que então?

A cada dia conhecemos novas pessoas, seja no ambiente de trabalho ou nos eventos sociais, mas não é, necessariamente, um contato que gera vínculos mais fortes. Muitas vezes são apenas relações superficiais. Poderá ou não, nascer alguma nova amizade mais duradora e consistente. Poderá.

Certamente conhecemos alguns amigos há mais de dez anos e hoje, por motivo os mais diversos, já nem falamos com muitos deles. É como se o elo criado dessa relação fosse eterno, que inconscientemente negligenciamos a repetição temporal para sua manutenção. Então os encontros passam a ser casuais, em eventos raros, em circunstâncias adversas, onde apenas um “olá” é meramente formal.

Retome essas amizades, convide essas pessoas para participar de atividades comuns, em casa, em associações, em academias, em espetáculos, em grupos de estudos, em clubes de diversões, em trabalhos filantrópicos, em reuniões familiares. São muitas as oportunidades para reconquistar velhos contatos ou até conhecer novos “estranhos” e se tornarem bons amigos.

Devemos ter o cuidado para não ir separando-os em grupos, criando paredes por afinidades, pois é bem provável que eles acabem fazendo a mesma coisa.

Isso não é salutar. Pois criaremos um padrão para cada grupo, nivelando a diversidade de pensamentos, atitudes e emoções, fazendo com que percamos a oportunidade de conhecer e refletir sobre as divergências contributivas da crítica e da convivência com o outro.

Portanto, não nos isolemos.

Realmente tenha não só intenção de estar com os amigos e sim querer compartilhar com eles alguns instantes de sua existência.

O tempo passa e não é bom que fiquemos nutrindo a solidão. Se não cuidarmos, em breve estaremos envolvidos pelo caminho natural que parece ser esse, mas que cabe a cada um de nós trilharmos, cheio de amigos que sorriem e choram conosco.

Não é vergonha assumir que precisamos fazer amigos e muito menos deixar de sentir que eles nos fazem falta.

Pronto. A adega está reabastecida.

Nela coloquei o néctar dos deuses, para que ao tilintar das taças, lembremos que somos abençoados por sermos “amigos de fé camarada”.

 Bata à porta e, juntos vamos comemorar a vida.

 Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil e Consultor (josuacosta@uol.com.br)

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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