NÃO SE VOLTA VAZIO –

Você já se deparou com uma sensação estranha de desânimo, como um vazio em sua vida?

De vez em quando acordo com uma sensação de um vazio na alma. O coração parece apertado como que pressentindo algo desanimador e até angustiante. Imediatamente procuro me desviar desse estado mudando o meu pensamento para algo mais positivo como forma de afirmar que não é nada, porém sem descartar a necessidade de observar o que está se passando.

Minha saudosa mãe era taxativa: “Ontem sonhei com você pequenininho. Meu coração fica apertado e tenho uma certeza: você está com algum problema”. Ela acertava todas as vezes. A intuição de quem tem extensão de afinidade própria do espírito materno; de quem sente na alma o amor por aquele que foi gerado de sua carne.

Às vezes essa sensação de vazio aflora e não sabemos de onde vem, insistindo em permanecer, trazendo uma insegurança emocional, parece que o nosso peito vai se abrindo para aceitar o incômodo que se instala num piscar de olhos.

Se deixarmos que tome conta de nós, certamente, nosso organismo sentirá como um todo em desarranjos. Nunca estamos preparados para lidar com esse vazio. A luta se instala

tentando fugir dessa sensação e, se não reagimos de forma correta, parando para analisar e reorganizar os acontecimentos e as realizações do dia a dia, seremos engolidos literalmente pela angústia.  Ela passará à nossa frente e irá abrindo portas e mais portas, que após ultrapassá-las, nos trancarão em mórbida entrega. Tudo, de repente, perde a graça. Seremos consumidos pelos próprios pensamentos de que não tem solução, que não tem saída e cada vez mais a nossa voz vai emudecendo, a ponto de não podermos gritar por socorro.

Nessa hora teremos que recorrer a outrem para que destranque as portas e acesse a alma pela ação de dois socorristas: um profissional da psicologia e um médico da alma. O homem e o Deus, juntos, estendendo as mãos em nosso socorro. Estamos sem forças, precisamos de amparo, de sermos injetados de fármacos, de ânimo e de fé.

O vazio tem que ser preenchido com propósitos. Tem que ter o olhar mais adiante. Tem que educar o coração para os encantamentos das coisas simples e das situações cotidianas que geram pequenas e repetidas alegrias.

Sei que atualmente estamos vivendo um tempo que colabora para que sejamos tomados de ansiedades, tais como, doenças, vírus, fraqueza moral, mentiras, desacertos políticos, sociedade desorganizada, lutos, desempregos, falta de fé, falta de esperança, jovens sem destinos, sabedorias idiotas e outras tantas mazelas. Tudo isso concorre para que estejamos sujeitos a essa comorbidade emocional.

Temos que estabelecer conexões com as coisas mais interiores da alma, pois do que podemos ter certeza é de que o controle sobre os acontecimentos que nos cercam não está plenamente ao nosso dispor, e que, para  enfrentá-los, precisaremos de muita atenção ao cenário dos assuntos sobre os quais não temos respostas e que, isso, pode aumentar as incertezas dentro de nós e provocar ansiedades que nos prejudicam.

Na solidariedade da aceitação, da ajuda, de uma palavra confortadora, de um estender os braços em favor do outro que se encontra em uma situação de fragilidade emocional,  não se volta vazio. Quando vamos ao encontro daquele que precisa, é necessário que baixemos o nível de nossas futilidades para preencher com o que o outro nos oferta como gratidão:  um “muito obrigado” ou um “sorriso mudo, porém sincero”.

Esse vazio dentro de mim e de você só será preenchido pela graça de Deus.

Não se volta vazio quando enchemos o coração com as coisas simples da vida.

Nesse momento é importante se acolher.

 

 

 

 

 

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras (josuacosta@uol.com.br)

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