A situação das calçadas de Natal ainda precisa melhorar. A capital potiguar é apenas a 14ª em acessibilidade e caminhabilidade — termo que define o quão convidativo um espaço pode ser para pedestres, cadeirantes e outras pessoas com deficiência. É o que diz o relatório Calçadas do Brasil 2019, realizado pelo portal Mobilize Brasil nas 26 capitais dos estados nacionais e também no Distrito Federal.
O levantamento foi feito em calçadas mantidas diretamente pelo poder público. Em uma média que vai de 0 a 10, a nota de Natal foi 5,78; pouco acima da média nacional, que foi de 5,71. A nota ideal estipulada pelo Mobilize Brasil é 8. Nenhuma das cidades avaliadas alcançou o índice. São Paulo (SP) foi a primeira colocada, com média 6,93; Belém (PA), a última, com 4,52.
Foram considerados itens como calçadas, acessibilidade, semáforos, faixas, ruído e poluição no ar. A capital do RN recebeu nota zero em Semáforos de pedestres; a pior nota no quesito entre todas as cidades. A maior nota registrada foi para o critério largura total da calçada e largura da faixa livre para circulação, que o relatório aponta como uma “nota mediana”.
Pedro Henrique Dias de Carvalho, estudante de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) foi o responsável por coordenar e realizar o trabalho de campo que avaliou as calçadas de Natal. Ele acredita que essa análise é fundamental para buscar soluções para melhorar a experiência das pessoas ao caminhar pela cidade.
“É importante para encaminharmos esses dados ao poder público. Assim, podemos cobrar e buscar soluções [em relação às calçadas]”, contou. Carvalho apontou que o problema mais recorrente nas calçadas analisadas foi a acessibilidade, algo crucial para pessoas com deficiência.
Em contrapartida, um item que se destacou positivamente foi a arborização. “A área sombreada serve de incentivo para que as pessoas caminhem”, avalia. Para o coordenador da avaliação na capital potiguar, é preciso fiscalizar as obras novas e incentivar que a construção de calçadas obedeça padrões que facilitem a circulação de pessoas.
As três melhores calçadas da capital potiguar são:
- Calçadão de Capim Macio – Av. Engenheiro Roberto Freire: 7,67
- Praça Ubaldo Bezerra – Av. Senador Salgado Filho/Largo Ubaldo Bezerra: 7,33
- Orla de Ponta Negra – R. Erivan França: 7,00
As três piores calçadas avaliadas em Natal:
- Escola Desembargador Floriano Cavalcante – Av. Santos Dumont/R. Bougaris 4,20
- Praça – Av. Senador Salgado Filho/R. Cristal de Rocha 4,33
- Praça Sesc Potilândia – Av. Senador Salgado Filho 4,50
Realidade brasileira
Para Marcos de Sousa, um dos coordenadores da campanha Calçadas do Brasil 2019, um dos principais objetivos da campanha é criar uma metodologia de avaliação de caminhabilidade voltada às cidades no Brasil. “Países desenvolvidos possuem uma metodologia voltada à realidade deles. O legado que queremos deixar é desenvolver um método voltado aos problemas do Brasil”, conta.
O coordenador ainda contou que, em São Paulo, 42% dos deslocamentos — somados ida e volta — são menores que 2,5 km. “Se as calçadas tivessem melhores condições, isso traria uma redução no uso de automóveis. O que reduz a poluição, os congestionamentos e traz um benefício à saúde da população”, observou.
Segundo ele, a pesquisa deixa um legado importante, já que a população brasileira está envelhecendo. Sousa aponta que é importante estimular as cidades a investirem menos em transporte motorizados e facilitem o uso dos caminhos à pé. “Crianças, pessoas com deficiência, idosos, queremos facilitar a vida desses grupos de pessoas. Assim, se cria cidades mais humanas e adequadas às populações envelhecidas”, ressaltou.
Conforme o coordenador da campanha, a intenção é apresentar os relatórios às autoridades, para que haja a possibilidade de um trabalho pontual. Em São Paulo, já chegaram a se reunir com a prefeitura para apresentar os problemas enfrentados na cidade. “Queremos apresentar dados, caminhos. Nosso objetivo é conversar com os candidatos às eleições de 2020 para que essa pauta seja um compromisso deles”, antecipou.
A ideia é transformar o estudo em uma ferramenta aberta para as pessoas. Dessa maneira, há a possibilidade de expandir uma análise das calçadas de forma com que a população possa colaborar para a avaliação das calçadas em cidades de menor porte.
Fonte: G1RN