Para quem volta a Natal após algumas décadas, pode reparar a riqueza da preservação de conjuntos arquitetônicos, que revelam muito da história da cidade. Desde o acervo de obras sacras à estilística colonial, encontra-se surpreendentes traços de uma diversidade de formas que expressam vivamente épocas reminiscentes distintas. São traços que reavivam o cotidiano daqueles tempos memoriais.
Natal não se resume a monumentos comemorativos como se percebe em tantas cidades. Não é raro encontrar edifícios de uma nitidez barroca, ou mesmo um traço modernista a reparar. Há templos e monumentos que provêm do século XIX, e admiravelmente aqueles que nos remetem ao século XVIII. O centro histórico é um precioso sítio de contemplação, a considerar uma aula de história ao ar livre, onde se exibe o percurso secular da cidade no rumo da modernização. O respeito ao memorialismo é visto nas obras que necessitam ser adequadamente reverenciadas e conservadas; dever e respeito cultural às administrações passadas, que assim o fizeram.
O Forte dos Reis Magos para tantos é o Marco Zero de Natal que, para visitantes, é mais que um símbolo a demarcar a história. Constitui-se referência inestimável para adentrar aos demais sítios culturais da cidade. Refiro-me ao espaço do conhecimento e da arte profusos em que a urbe potiguar habita em torno de sua alta administração. E com clareza observa-se que boa parte da narrativa histórica de cunho social e popular, bem como a evolução urbana de Natal pode ser contemplada pelo conjunto arquitetônico tombado.
Ainda no traço humanístico, há o cenário do Instituto Ludovicus Câmara Cascudo, onde se admira a aula fundamental do ciclo folclórico brasileiro por excelência, centro em que o grande mestre viveu e redigiu seus tratados e escritos fundamentais. E mais, tudo isto tendo a orla magnificente do mar benfazejo, a costa iluminada pelo generoso astro, cenário de mágica grandeza a circundar o litoral potiguar, que atrai e deslumbra aos que aqui devotam à visitação.
Luiz Serra – Professor e escritor
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