NEIL DE CASTRO –
Zona Erógena foi o primeiro dos livros de Nei Leandro de Castro que eu li. O fato inusitado da obra recaia na identificação autoral onde constava o pseudônimo Neil de Castro, em vez do nome verdadeiro do escritor. A partir daí enveredei pela bibliografia de meu antigo vizinho de Rua Mossoró, no Tirol, em anos que não me recordo mais. No embalo conheci Era uma vez Eros, O Dia das Moscas, As Dunas Vermelhas, A Fortaleza dos Vencidos e Pássaro sem Sono.
Acompanhei-o, sistematicamente, às sextas-feiras, em seu espaço na Tribuna do Norte. Divertia-me com os pensamentos da semana reproduzindo citações atribuídas a autores extraídos de sua imaginação, dos quais Rodrigo Rodrigues Roque era o mais frequente nas crônicas semanais. Seguem algumas pérolas de RRR:
– Desconfie do amigo cuja mulher não gosta de você.
– Sucesso é uma questão de sorte. Pergunte a qualquer fracassado.
– Por exagerada modéstia, divido as pessoas em dois grupos: os que concordam comigo e os que estão errados.
– Freiras, frades e monges são apenas pessoas que não conseguiram se livrar de certos hábitos.
– Trauma de infância é uma doença que só ataca adulto.
– Falar mal dos outros: eis a maneira mais sofisticada de falar bem de si.
– Turista é o sujeito que quando está com o saco cheio dos amigos viaja para encher o saco dos desconhecidos.
– Não, minha santa, afresco não é um tipo de pintura onde são retratados os homossexuais.
– Se você não dominar bem a língua, não deve escrever cartas de amor. Nem muito menos praticá-lo.
Em seus escritos, Nei consegue dissecar o passado de dificuldades que enfrentou na vida com humor e sem pieguices. Aborda o assunto de peito aberto e com uma sinceridade que às vezes choca o leitor. Suas experiências do tempo em que viveu e curtiu Portugal sem vintém são divertidas e deliciosas de ler.
Ante as comemorações dos 80 anos de vida de Roberto Carlos, neste 2021, fato que o pôs novamente na berlinda, recordei Nei Leandro por causa de seu envolvimento com o cantor, em determinado período de sua vida, no Rio de Janeiro. Em 2008, Roberto Carlos perdeu na justiça o direito a uma indenização milionária pedida ao escritor Paulo César de Araújo, por publicar uma sua biografia não autorizada – Roberto Carlos em Detalhes. Em janeiro de 2009, Nei nos brindou com a crônica O Rei e Eu.
Nela retrata de forma hilária a maratona para emplacar músicas de sua autoria e de um parceiro seu, entre as selecionadas para integrar algum dos álbuns anuais de Roberto Carlos. Após trabalhar em diversas canções com entusiasmo crescente e vê-las todas rejeitadas pelo Rei sem uma palavra sequer justificando a recusa, pararam com as incursões ao cantor.
Surgiu então a ideia de escrever uma música na medida certa da decepção de ambos e onde se encaixasse as manias e superstições do cantor aclamado, exaltando, notadamente, o marrom e o roxo. O título: Sou Roxo pelo Marrom. Eis as primeiras estrofes da canção:
O marrom é a cor mais bela do mundo
Igual ao marrom só o roxo/O roxo profundo
Roxo das mortalhas/Roxo de Zé do Caixão
Roxo das pancadas do meu coração.
A propósito, amanhã, 30 de maio, é o aniversário natalício do escritor norte-rio-grandense (81 anos), autor de As Pelejas de Ojuara. Ao caicoense ilustre, minhas congratulações e um Feliz Aniversário!
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro e Escritor