…NEM COM UMA FLOR –
Desde os primórdios da humanidade existe uma forte cultura patriarcal em várias sociedades que privilegia os homens, colocando-os nos espaços do poder. Essa desigualdade estrutural, que subjuga as mulheres por seu gênero é a principal causa da violência contra a mulher.
A nossa cultura patriarcal é fruto da colonização portuguesa, porém, não se justifica atrelar a violência contra o sexo oposto como sendo algo cultural. Tal violência se expressa de cinco maneiras distintas: física, psicológica, moral, patrimonial e sexual. Todas são desprezíveis, mas duas delas guardam aspectos de bestialidade: a física e a sexual.
É incompreensível ver-se a transformação do tratamento interpessoal entre diferentes uniões, que desandam da convivência saudável movida pelo carinho, gentileza e pelo amor, para a grosseria, a agressão física e o ódio num piscar de olhos.
A paz desfrutada entre casais durante o relacionamento de anos de namoro e noivado nem sempre foi suficiente para que ambos conhecessem a verdadeira personalidade um do outro a qual somente se descortinava após o casamento com a convivência diária. Daí o ditado: “Viver é fácil, difícil é conviver!”
Na maioria das vezes a mulher se resignava e a tudo suportava submissa. Os tempos mudaram, agora as mulheres questionam, reagem e exigem direitos iguais, despertando no macho instintos até então contidos, porém, nada agradáveis e desconhecidos da parceira. Eis o conflito estabelecido.
No Brasil, as principais motivações para o feminicídio, causados por marido, amante ou ex-companheiro são o ódio, o desprezo ou o sentimento de perda de controle e da propriedade sobre a mulher, descambando para o inconformismo com a separação, seguidos de ciúme, posse e machismo.
A lembrada frase extraída do frevo do compositor pernambucano, Capiba: “Em uma mulher não se bate nem com uma flor” está desconectada nos tempos atuais, onde além de apanhar, quatro mulheres são assassinadas a cada 24 horas. São fatos de arrepiar os cabelos, mostrados diariamente nos noticiários acerca de agressões masculinas contra mulheres.
O aflorar da irracionalidade masculina contra a mulher não escolhe o nível cultural do macho e acontece de forma instintiva, deixando claro que a mão que afaga é a mesma que agride desde que ele se sinta ferido nos brios. A sensação de se ver desprezado, abandonado é superada por qualquer mecanismo de controle emocional.
A Lei Maria da Penha, criada em 2006, para diminuir a violência doméstica e familiar contra a mulher enfrenta dificuldades para ser cumprida integralmente. O número insuficiente de delegacias e varas especializadas e até o comportamento machista de alguns juízes e delegados dificulta a observância da lei.
A machista frase chave da peça de Nelson Rodrigues, “A Mulher sem Pecado”, que insinuava: “Toda mulher deve apanhar: você pode não saber por que está batendo, mas ela sabe por que está apanhando”, nunca teve tantos adeptos como agora. Algo injustificável, quando apregoam vivermos a época dos direitos iguais.
Algo tem que ser feito, algo tem que mudar para eliminar tanta crueldade contra o sexo oposto. Ninguém duvide que as mulheres ainda gritarão aos quatro ventos: “Me tornei forte não pelas minhas conquistas, mas sim por tudo que enfrentei!”
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil
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