NEM LUXO NEM MISÉRIA –
Pertence ao carnavalesco Joãozinho Trinta a repetida frase “O povo gosta de luxo; quem gosta de miséria é intelectual”. Acontece de tal afirmativa ter sido interpretada como a aspiração do pobre por uma vida luxuosa, quando, na verdade, ele se referiu ao gosto do povo humilde pelo luxo das escolas de samba nos desfiles de Carnaval.
Aquele que nasceu e vive na pobreza não almeja o luxo. Deseja tão somente ter uma vida digna para si e sua família, porém longe da miséria. Não existe nada mais triste para um pai de família sair de casa para procurar emprego e deixar os filhos chorando de fome ante o olhar de desespero da mãe.
Também é verdade que nos dois últimos anos o mundo atravessou uma situação atípica iniciada com a pandemia da Covid-19, o desemprego e a inflação, culminando com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, fatores esses que insuflaram os índices de pobreza e de miséria absoluta no Brasil.
Como se não bastassem as desgraças econômica e de saúde pública vieram na contramão do admissível os fatores climáticos com chuvas e inundações ceifando vidas e desestruturando milhares de famílias em diferentes regiões do país.
Alimentar minimamente a população necessitada é, na nossa nação, cláusula constitucional, ou seja, dever do estado. Porém, quando a fome atinge a situação de miséria e ganha contornos de questão humanitária deixa de ser apenas problema de governo para se tornar responsabilidade de toda a sociedade constituída.
Nesse instante devem aflorar atos de bondade e compreensão com o próximo. Devemos exercitar a solidariedade humana. Amenizar o sofrimento de quem perdeu tudo e não sabe mais o que fazer para mitigar a fome, o frio, a dor e a vontade de viver.
Trinta e três milhões de pessoas são muita gente. Não à toa que vemos multiplicados os números de pedintes nos semáforos. Não à toa o aumento da população de moradores de rua. Não à toa o olhar de desesperança e o choro incontido de quem não mais onde ou a quem apelar por auxílio.
O brasileiro é de natureza um povo benevolente e solidário. Principalmente os oriundos de castas humildes, capazes de dividir o único prato de comida com o vizinho porquanto entender e vivenciar a mesma necessidade dele.
É incompreensível que o Brasil considerado um dos maiores produtores de grãos do planeta, um dos mais respeitados exportadores de carnes bovina e de frango do hemisfério sul seja, também, quem abriga desproporcionais números de famintos dentre as nações.
Ainda existe tempo de revertemos o quadro humanitário desfavorável. Se dispomos de condições para adotar um canteiro para embelezar uma avenida, também podemos ajudar uma família, uma entidade beneficente, para aliviar o sofrimento de muitos de nossos irmãos postados na linha da extrema pobreza.
E mais, o luxo que almeja o pobre é gozar da riqueza do pão nosso de cada dia, diariamente, na mesa de cada um deles. O luxo de ter um emprego estável para criar os filhos distantes da criminalidade e das drogas. O luxo de deitar a cabeça no travesseiro no final de cada jornada de trabalho liberto do pesadelo da miséria que assombrou cada dia de sua existência de pobre.
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil