NEM PÃO NEM CIRCO –

Panem et circenses (Pão e circo) foi uma política desenvolvida durante a República Romana e Império Romano como medida de manipulação de massas, onde a aristocracia incentivava a plebe de certa forma ficar desinteressada em política e dar atenção somente para prazeres como a comida, através do pão, e o divertimento, retratado pelo circo.

Se fizermos uma analogia grosseira com o nosso país de dois anos atrás, os brasileiros situados na linha de pobreza e os desempregados eram beneficiários de ajuda governamental para o pão, enquanto usufruíam de divertimento gratuito em decorrência do próprio espírito festivo de cada um nos carnavais de rua, em bailes públicos na periferia das cidades ou em curtições nas praias e outras baladas mais.

Com a pandemia tudo mudou para pior. O desemprego aumentou, o índice de pobreza cresceu, a inflação disparou, a diversão grupal foi vetada em prol do bem comum, o benefício do governo diminuiu porque se repartiu a ajuda por maior número de necessitados, e o Brasil mostra agora uma outra cara bastante diferente da feição de antes.

O que se vê hoje é algo nunca visto antes na história deste país. As ruas tomadas por desocupados e famílias de mendigos sem alternativas senão a de pedir ajuda aos mais abastados que eles. É verdade que a essa turba se infiltram aproveitadores e vagabundos, porém, comumente são pessoas carentes imbuídas da tarefa de encontrar um pouco do pão de cada dia para o sustento familiar.

Por mais benevolente que seja a índole do brasileiro ainda é pouco o muito que cada um ajuda dentro de suas possibilidades. Hoje, os necessitados não se postam apenas nos cruzamentos de ruas e avenidas com os seus apelos e queixas escritos em cartazes.

 Agora adentram em supermercados, padarias ou quaisquer outros pontos de vendas com uma embalagem de leite, uma sacola de pão ou um pacote de fraldas nas mãos, esperando incluir entre as compras dos clientes desses estabelecimentos a esmola quase forçada.  É de cortar coração tamanho constrangimento!

Acredito que qualquer pai ou mãe de família dispondo de mínimas condições materiais para sobreviver, dificilmente se sujeitaria a situação humilhante de estender a mão em apelo por um prato de comida. Bastaria existir espaço de trabalho, saúde pública e educação para os filhos, isso aliado à confiança em quem os governa, para o indivíduo exercitar com dignidade a cidadania.

Por diferentes razões está difícil, num curto espaço de tempo, o retorno à normalidade econômica do Brasil. A começar pela alta do barril de petróleo que afeta a todos os setores da sociedade, indistintamente. O que me assusta é ver essa multidão crescendo a cada dia, sentindo-se desprotegida e desassistida, sem perspectivas para o futuro, resolver dar um basta na situação de penúria que atravessa.

Com pouco ou quase nada de ajuda do governo, sem opções de emprego, sem gás de cozinha, com água e energia elétrica cortadas por falta de pagamento, sem assistência médica, sem dinheiro para o transporte e, em consequência disso sem o lanche da escola para os filhos; sem perspectivas animadoras para o dia seguinte, sem pão e sem circo, a massa de mais de 14 milhões de desempregados pode representar o ponto de desequilíbrio na complexa crise econômica e social do país.

 

 

 

 

José Narcelio Marques Sousa – engenheiro civil

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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