NETOS SÃO COMO HERANÇA –
Hoje a cor de prata já domina parte dos meus cabelos e paralelamente a esse lento descolorir, cada vez mais entendo que uma das grandes bênçãos da vida é a experiência adquirida ao longo da jornada existencial, principalmente quando se tem a família como base de sustentação.
Dias atrás, em primeiro de maio, mais uma janela se abriu diante dos meus olhos, novo cravo brotou para perfumar o jardim do meu cotidiano, mais um sorriso estampou para me proporcionar momentos inesquecíveis. Mais uma pessoinha para mim olhou oferecendo confiança em viver: Matheus Lanverly, meu sexto neto.
Já faz algum tempo que entendo serem os netos como heranças: você os ganha sem merecer, sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu. É um ato divino, sem se passarem as penas do amor e as dores da maternidade. E não se trata de um filho apenas adotado; o neto é realmente o sangue do meu sangue, filho da minha filha e portanto mais filho do que a filha mesmo.
Para mim, o sorriso de Matheus Lanverly, desde o momento que o vi pela primeira vez, representou a mais pura expressão de alegria! Meigo, sincero, carinhoso e divertido. Por mais que tentasse não consegui ficar sério olhando para o seu rosto lindamente perfeito, uma autêntica dádiva de Deus.
Matheus meu neto, como os demais, já chegou representando forte significado para mim, não somente no presente, mas em todos os dias que restam em minha existência, deixando claro que o Pai Maior estará sempre a usá-lo para me ajudar a aliviar as tensões do cotidiano.
Outro dia, ouvindo o choro de Matheus, entendi como é lindo aquele ato, pois cada lágrima em sua face, representavam palavras ditas não de sofrimento calado, mas de desejo a ser realizado, pois as gotículas líquidas escorridas de seus olhos não doíam, o que na verdade o maltratava era a vontade de expressar algo que ainda não podia explicar.
Já está tudo programado, quer seja em Maceió em nossos encontros regulares, ou em estadias de lazer em nossa casa na Barra de São Miguel, até os fatos negativos haverão de se transformar em alegria quando porventura se intrometerem entre nós dois: a bicicleta de estimação que teve o pneu furado, a bola rasgada ao encontrar um prego afiado pela frente, serão rapidamente remendados, porém enriquecidos com preciosas recordações, jamais esquecidas.
O beiço pronto para o choro, depois quando tudo resolvido, o semblante feliz e aliviado porque ninguém se zangou, e a pergunta que sempre haverá de encantar o meu coração: a culpa foi do pneu e da bola não foi vovô Rock? Tal falar carinhoso para sempre será uma relíquia para qual não existe dinheiro que pague.
O tempo passa e mesmo com o avançar da idade, continuarei amando sem medida Matheus meu neto, na certeza de que a cada, até mesmo quando adulto estiver, o assistirei trilhar os vales da vida e por fim encontrar o mais belo jardim, o jardim que representará a realização dos seus maiores sonhos.
Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras e filho de Marlene Lanverly
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