NÍSIA FLORESTA – A PIONEIRA DO FEMINISMO
Neste 08 de março, Dia Internacional da Mulher, quero homenageá-las todas, discorrendo sobre uma minha conterrânea famosa, que, com suas atitudes progressistas e seus escritos incisivos, lutou muito, em meados do século XIX, para que as mulheres pudessem alcançar direitos que lhes eram negados, e uma melhor posição na sociedade. É considerada uma pioneira do feminismo no Brasil, e foi provavelmente a primeira mulher a romper os limites entre os espaços privados e os públicos, divulgando textos em jornais, numa época em que a imprensa nacional ainda estava em seus primórdios. Me refiro a Dionísia Gonçalves Pinto, que depois adotou o pseudônimo de Nísia Floresta Brasileira Augusta, nascida em Papari, no dia 12/10/1810. Em merecida homenagem à sua mais ilustre filha, o município passou a ser denominado Nísia Floresta, através do Decreto Lei nº 146, de 223/12/1948, de autoria do deputado estadual Arnaldo Barbalho Simonetti.
A escolha do pseudônimo revela suas qualidades excêntricas: Floresta, referindo-se ao sítio onde nascera; Brasileira, pela necessidade da afirmação de seu nacionalismo (já que vivera quase três décadas na Europa); e Augusta, como recordação do segundo marido, Manuel Augusto de Faria Rocha, com quem se casou em 1828, pai de sua filha Lívia Augusta. Para o polímata pernambucano Gilberto Freyre, Nísia Floresta seria “uma exceção escandalosa” ao comportamento característico das mulheres daquele seu tempo: “Verdadeira machona entre as sinhazinhas dengosas do meado do século XIX. No meio dos homens a dominarem sozinhos todas as atividades extra-domésticas, as próprias baronesas e viscondesas mal sabendo escrever, as senhoras mais finas soletrando apenas livros devotos e novelas […], causa pasmo ver uma figura como Nísia”. Em seu livro “Patronos e Acadêmicos”, referente às personalidades da ANRL, o escritor e acadêmico Veríssimo de Melo afiança que Nísia teria sido “a mais notável mulher que a história do Rio Grande do Norte registra”.
Nísia recebeu suas primeiras instruções na cidade de Goiânia, local em que, desde o século XVII, havia um convento de carmelitas, onde revelou grande aptidão para as letras e línguas estrangeiras. O primeiro livro, “Direitos das Mulheres e Injustiças dos Homens”, foi publicado quando tinha 22 anos, e já vivendo na companhia de Manuel Augusto, estudante de Direito na Faculdade de Olinda. No mesmo ano da publicação, muda-se com a família para Porto Alegre. Neste livro, influenciado pelos escritos de Mary Wollstonecraft (filósofa inglesa do século XVIII, e defensora dos direitos femininos), Nísia Floresta propõe, às mulheres, novas perspectivas quanto ao seu papel na sociedade. A obra foi dedicada às brasileiras, de quem Nísia esperava que: “[…] longe de conceberdes qualquer sentimento de vaidade em vossos corações com a leitura deste pequeno livro, procureis ilustrar o vosso espírito com a de outros mais interessantes, unindo sempre a este proveitoso exercício a prática da virtude, a fim de que sobressaindo essas qualidades amáveis e naturais ao nosso sexo, que até o presente têm sido abatidas pela desprezível ignorância em que os homens, parece de propósito, têm nos conservado, eles reconheçam que o Céu nos há destinado para merecer na Sociedade uma mais alta consideração.”
Nísia Floresta, apesar das condições desfavoráveis à mulher, escreveu cerca de quinze títulos ao longo dos seus 74 anos, dentre poemas, romances, novelas e ensaios, sendo alguns reeditados mais de uma vez. Suas obras foram escritas em diferentes idiomas, e muitas dessas foram publicadas pela imprensa. No livro “Opúsculo Humanitário”, de 1853 (introdução e notas por Peggy Sharpe-Valadares, posfácio de Constância Lima Duarte), Nísia Floresta registra: “Quanto mais ignorante é um povo tanto mais fácil é a um governo absoluto exercer sobre ele o seu poder. É partindo desses princípios, tão contrários à marcha progressista da civilização, que a maior parte dos homens se opõe a que se facilite à mulher os meios de cultivar o seu espírito.” Essa coletânea de artigos sobre emancipação feminina foi merecedora de favorável apreciação por parte de Auguste Comte, pai do positivismo. Em 1878, Nísia publica seu último trabalho, “Fragments d’un Ouvrage Inédit: Notes Biographiques”.
Nísia morreu de pneumonia no dia 24/04/1885, em Rouen, na França, sendo enterrada no cemitério de Bonsecours. Em agosto de 1954, quase setenta anos depois, os despojos foram levados para sua cidade natal, já chamada Nísia Floresta. Primeiramente foram depositados na Igreja Matriz, depois foram levados para um túmulo edificado no sítio Floresta, onde ela nasceu. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos marcou a data da trasladação com o lançamento de um selo postal.
Eugenio Bezerra Cavalcanti Filho – Empresário aposentado / Escritor
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